A POESIA É NOTURNA |
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Escrito por Administrator |
Segunda, 03 Setembro 2018 22:22 |
à noite material da alma à noite primal da poesia Indizível felicidade me traz a noite do Retiro. Junto – ao pé – da amoreira noturna olho grandes morcegos e um bacurau passa, soltando o grito escuro o breu da noite limpa do páramo etéreo me cega e aviva o entusiasmo. Os séculos eram rápidos para mim presa da noite atemporal e minuciosa. A horas ríspidas do dia ser exposto. A presença da Poesia era estridente Magnificando-me, era estrondoso e firme o resplendor da arte letrada. Num lapso de instante, aboliu-se o tempo e, ante a noite imóvel, vi o fugaz em mim o universo suspenso ajoelhou-se na página. Os espaços absolutos me percorreram, os olhos do espírito se acenderam, todo o literal esfumou-se e lúcidas estrelas me apaziguaram (com seu cacto de luz ferina e bela). As águas do tempo, seu rumor líquido, ouvi-as. Ondas de trevas e praias escuras me ouviram. Uma espécie de transitória visão me reteve. Todos os pudores abolidos, resta o eterno. Todos os poderes lassos, resta o homem.
Todas as vertigens reunidas, sobra o ser. Vidente, contemplo o tempo, vejo a eternidade perto de mim. Seu labirinto crônico penetro, ouço as ramas da árvore única do éden. Crio a escavação de mim, escavo o íntimo, e o publico, palmilho o todo vou ao aquém da alma, cedo-me à poesia impura. O eu interior é gozo, não é naufrágio. Um raio de treva me desperta... e escrevo.
VOZ E ÂNGULO
Não a voz curva ou poliédrica de um ângulo mas vozerio de hoste líquida de anjos em revoada sobre o rosto não um tônus sobrenatural que abula a percepção ou rasgue os tomos da razão não, só o poeta emergindo da maré perene desmontante da noite, indo à claridade da página segar do banal dominante toda a idiota parafernália. |