POEMAS ABANDONADOS |
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Escrito por Administrator |
Sexta, 16 Junho 2017 22:38 |
“que o poeta use, no poema, mais de silêncio que de palavras” CDA
Abandonado pelas musas porque lúcido sou apenas simples humano entre tantos (trastes hominídios) que reza ao vazio ante às puras fauces do abismo depois do túmulo das ilusões perdidas abeira-se a realidade capciosa e vai ao ápice dos maiores centros de compra do mundo depois ao beco das últimas lamentações. (Onde ao tumulto do vômito sucede a razia dos sonos cansados e o sonho sob posse do deus lírico do álcool se alastra). (Poema ao farto silêncio de que é feita a poesia).
VI I
Vi o mar morrer, a água exaurir-se com a vida marítima e cetáceos da areia agonizante vi suicídio de abelhas, pólem demolido, a cólera do mel vi néctar derramar-se no abismo cego, amaro e puro e astros hectombarem vi a dor fecundar (fértil e dolorosa estirpe regerminar vi planícies e planaltos copularem parindo ratos e sombras de ratazanas enlutarem o sol vi o triunfo das bestas e dos pastos blasfemos insônias sitiarem meus olhos, a escuridão nascente vi vômitos comungados em despenhadeiros amarelos ocuparem gargantas, esôfagos, cânions da laringe vi escárnio, opróbrio, usura, ódio, desventura me crucificarem na esquina do mercado mais próximo. Vi o sino das alvoradas bursáteis anunciando aurora de martírios e éditos de sangue pregados nos púlpitos por diáconos obesos. Vi agonizar o mundo e seus asseclas que se proclamam heróis de pano capitalistas pesados, escravos, presbíteros do pânico, banqueiros de Ectábana, prócer curdo profetas de pedra (e suas vozes de tório e plutônio) oráculos metálicos novos apóstolos do messias movido a óleo diesel e gás mostarda.
VI II
Vi Verhaeren ler Baudelaire (que bebia absinto numa noite amarela de Paris) ouvi débâcles e negras finanças esvoaçando em meio a túmulos de ágios e vícios vi a voluptuosa Vênus de Milo embelezar-me a clavícula de gozo estético e fino instinto vi Ginsberg se banhando no Ganges às cinco horas de uma manhã indiana, o rosto abençoado por monções e bênçãos de zênite e Burroughs orando num templo de jazzen vi o eco de Kerouac arrebentando os tímpanos dos cânions rodeados de narcisos áridos vi cafés de marfins, torres de éter, velocinos de ira e épura de ouro vi abismos e deltas longos, vi trêmulos azuis, vi cáftens selecionando rapazes numa rua de Amsterdam, às 4 da tarde vi Solomon ler Howl a plenos pulmões na 7ª Avenida, e passantes vociferarem contra o futuro vi Snyder e Corso amando-se sob chuva fria de Cleveland na encosta da auto-estrada sob fulgor deserto das estrelas de abril. Vi gerúndios abandonados boiando em meio a destroços de palavras. Vi gerânios e debêntures amarelados. Ouros irônicos destemperados, vórtices domesticados. E restos de frases enferrujado. |