Este é um poema de tirar o fôlego de leitor musculoso, de suspender o juízo e abrir a porta das ideias.
Este poema transforma o espírito, transcendentaliza.
É gloriosamente metafísico.
Traz em si (e para leitor) desapego egoico.
Toca a própria eternidade um pouco. E um pouco de eternidade é ótimo. E muito.
Acho a suspensão do fôlego e exclusão do juízo elementos vitais a qualquer poema (absoluto).
Mas, onde está o poema, qual seu lócus?
O poema está no poeta, na obra de arte verbal escrita (não declinável), no mundo e no ‘’leitor’’, como um todo. São contextos de recepção, horizontes de fusão. E é único o poema, como a rosa. Só há a rosa perfeita e única (qualquer, só poeta sabe-o).
Ó vidas consumidas num átimo (nada ático) enfermo, inglório
de vaidade e desperdício (e consumismo narcísico)
num sítio de fé lucrática e cismas frias como cinzas esquecidas
pois a esperança do lucro move-me a dias absolutos.
Vivo da usura diária de comércio e artifício.
Há um rumor, porém, que se pressente a cada verbo.
A poesia agoniza, incinera a floresta
mais lenho para a fogueira das vaidades tragam.
Caem cânones como muros caem
agonizam os rijos anjos do desperdício.
Oro à inutilidade do luxo e creio na vida
onde haja sempre disponibilidades e bons vinhos.
Do meu amaro patrimônio e ávido (ou lírico)
e do acervo de meus meios-dias sem ócio morro
na defesa.
Há madames bêbadas de absinto e sábados
há comendas devoradas e nádegas de consulesas azuis na sala.
Nas esquinas do acaso há tâmaras há ratos
eflúvios de nojo e intestinos de chamas
(além de saudades moribundas da cidade amada).
Prédios que crepúsculos demoliram
edifícios de címbalos, podres bandas, êmbolos
turras de sábados à noite e beduínos ébrios
e bisnagas, além de seringas e bandagens, há
pacotes de primeiro socorro de ânsias represadas.
Ao tédio de bismuto e à amante acidental.
A chaminés hirsutas.
Ao que as palavras ainda não disseram
(ou poetas não escreveram)
às rupturas da pureza todas
ao que é porvir e incerteza
a alicerces sem futuro
a cofres arrombados e arcas secas
(de alianças parcas)
à madrugada de mim
(porque não é de prata minha alma).
E o sopro apenas pairou no corpo (e pousou no jarro)
da argila veio o espírito (que é de ágata)
é-me a alma anodizada.
Aços do verão despedaçaram vísceras da tarde
e a impotente noite nos aguarda.
Acetinado arco do teu seio onde repouso
ao redor do viço moro (com a acácia da axila)
do berço de relva do teu pentelho olho o gozo.
Jorro de seda líquida que é frêmito... e alma.
Trampus a nudez
toquei o encontro (das coxas)
(Capibaribe e Beberibe de gozo)
dedos perambulam no púbis
e pelos botões dos peitos se enrolam
à erma (macia e carnívora)
rosa vai a boca buscar
imortal sabor (de cárnea luz).