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Dom, Nov

destaques
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 Sei do sal, do seu lento crepúsculo, brusco alvorecer

dos iluminados dorsos, das hostes alvíssaras, cotonifícios

sei do sal, de suas manhãs brancas e domingos náufragos

dos pântanos onde trafegam sonos

do lodo das alegrias sei

das diatomáceas da lagoa

das catracas, dos sorrisos, esgares, martírios

sei das fontes imortais da noite

da solidão inumerável dos túmulos

do inóspito palpitar da morte

sei do sêmen e seu célere balé esponjoso

sei do sal da dor que embalsama

do sol calcinado, da lua cadavérica

sei do lume da seiva, do hino da culpa

do halo da incerteza, das loas que o vento inventa

sei do exaustivo pranto, do êmbolo agônico, da tua

mão em meu peito doloroso

do ditame de teus dedos longos

 

sei da cela dos suplícios, dos cilícios

que a volúpia intenta

da alma das gazelas

do balir das ovelhas

da certeza das estrelas

ser do pão ímpio pão

do pomar da sombra que ao ventre do fruto incinera

ser do omoplata dos hipopótamos

da lástima dos hititas

e dos salgueiros que chorão por Sião

sei sobretudo de teus olhos e seus longes azuis

sei das tardes em que desnudo me amavas completamente

e sei da ênfase de tuas loucas ancas delicadas

dos suspiros furiosos do teu gemer profano

e sei da serenidade que se apossava de ti após o gozo

(dos montes que Vênus a boca do poeta aviava)

sei das aréolas escuras e do púbis delicioso

de profundos unguentos acoimado

do céu que era meu corpo em comunhão com o teu

dos orgasmos caudalosos aquietados

dos delírios interiores, do sono crescendo como falo jovem

e sei de teu  corpo noturno esclarecendo o mundo

iluminando escuros da alma perdida

tonta, desamparada, ímpia (do poeta), sei.

 

 

                                             João Pessoa, 01.01.2000

                                   (Criado nos primeiros ébrios

                                  do Novo Ano iluminado

                                  dos sais do alvorecer paraibano).

                             

                                  Quem sabe, o primeiro poema do ano novo

                                  o último do vasto (e bélico) milênio?

 

 

Murilo Gun

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