02
Sáb, Ago

Poema é palavra

posta em cheque

desova de multissentido

pausa do precipício

alma sem demora

 

poema é palavra

que não esmorece.

 

Verbo sem data de vencimento certo.

Espírito solto sem bula ou bíblia.

A pairar sobre página indefesa.

Vesícula de som exercício de ritmo

vogal em êxtase da frase abrupta

inopinada receita de vida abstrata.

 

Vocábulo sem amarra ou barreira de rima.

Sílaba libertada (do cânone métrico e cólume).

Viva a beleza não convencional

(anos contados em cem dedos)

não frívola (ou casta) mas inteira intensa

espessa abstrata ou futura (digital ou analógica

porém belo).

 

Viva (por mais tempo ainda

tempo redimido e não opresso

injuriado, contado time is money)

o belo verbal

 

poesia passível de todos os delírios

e enriquecimentos ambíguos.

Só palavra delira

só verbo sonha.

Homem é devoto e aio

bursátil escravo (escarro do pó)

prisioneiro da usura da jaula do capital

(algemas da ilusão do lucro cerradas)

presa da métrica do tempo

trena das horas do trânsito

doidivanas incomensurável

polioco vexatório

das graxas da lascívia catraca e vã rolimã

incólume ao belo

mero usurário de droga do próspero

meio, bucha, pino solto, presa

não homem ainda.

 

(A beleza sentou-se-me

dos joelhos fatigados de Rimbaud

como as retinas de Drummond).

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Murilo Gun

REVISTAS E JORNAIS