03
Dom, Ago

Uncategorised
Typography
  • Smaller Small Medium Big Bigger
  • Default Helvetica Segoe Georgia Times

Percorri o acaso

seus ângulos súbitos, práticos

e nômades cubos inabomináveis

inusitado ermo redondo

cavalos contra o abandono

suas tendas de sábado

talheres persas

oblongos globos de pó

e veredas amarelas (como as porcelanas de Babel)

botões submissos

invisíveis ou rotas trilhas

redondezas mórbidas

aventuras cinzas.

 

Percorri o acaso como

um cego anda sobre fogo

como uma mulher nua

pousa numa cama branca

como um som dorme na tecla

ou um touro procura o sono.

Ou uma borboleta – flor flutuando – cria o ar.

 

O acaso do tempo não vem a caso.

O inciso do que abre o próximo parágrafo.

O que vai acontecer num lauto sábado.

A vetustez de um domingo de água

aceso ao acaso.

 

Severo acaso preparou meus passos.

E para meus olhos tristes e pacíficos

trouxe certeza, papoula e tulipa

além de luneta e pálpebra de borboleta.

 

Acaso feito de silêncio lilás que cresce em muros

ou do movimento de um torno usinando.

 

Acaso dos olhos das janelas de janeiro.

Acaso de navalha espanhola.

Ou poema de Murilo Mendes.

Acaso de geômetras azuis

e abcissas capazes

de catetos e triângulos

acaso de álgebras vermelhas.

 

Acaso o branco de tua alma

ainda estremece como outrora?

 

Acaso de aloés e madresssilva.

Acaso de mim.

{jcomments on}

Murilo Gun

REVISTAS E JORNAIS