Quem esfaqueia o torso dos precipícios
rumores brancos tocaia nas narinas do cume.
Quem ante as muralhas do crepúsculo ajoelha-se
e entre declarações de flores suicida-se.
Quem cáucasos e abutres promete
cavalos arreia e íntimas ameias conquista.
Quem escala borlas
iníquos séculos cava das cinzas dos ossos.
Quem resgata âncoras náufragas
e portos sepultos recupera.
Quem as sépias dos ossos escande
as formas do ímpio abrange.
Todo poema é um epitáfio
à alma
sombra e vagar pelo desolado Hades.
Tempo
rio perdulário e cínico
onde não há duas vezes.
Triunfo é algo tão fácil (artificial)
quanto uma máscara sem rosto.
O poeta como Ponge
tomando o partido das coisas.
Silêncio dos objetos
´´ ósseo intenso.
Conchas estupradas
cavalos líquidos.
Iluminações senis
dos lilases horizontes.
A derrota nunca é completa.
A devoração é uma virtude humana.
A eternidade não é de jade.
É de pedra comum, temporária.
Átomos de palavras e água (poesia).
Rosto de narcisos e mágoa (poesia).
Sais dos músculos.
Beleza do silêncio.
Mar da página. Veias para onde singrar
o barco louco da palavra.
Que ímpeto de tâmara vinho aprofunda
que cálice de sede hora despreza?
Poeta sobre feridas estagnando-se
aprofunda os sais terrenos da alma
cobre de prata plúmbea lua
o mar veio da vida
lírio insólito insufla olhar
gera flor a força da imaginação
sobre carne que incite a larva
desce sua inútil lágrima.
(Luar salobre como língua
de mar lambendo rios (Jorge de Lima).
Em lesbos bebo Safo.
Em Atenas copulo com Platão.
No cais lasso dores
e gemas te esperam.
Água inacabada ainda
a umidade do sopro de Deus.
Que turva inquietação nas aves puras
consegue transformá-las em rapinas?
O curso ininterrupto das estrelas
vai ao coração arruinado de Jorge de Lima.
Lentas mãos corpo contemplam
apegadas que são aos dedos das dores
cofiam o futuro do rosto
impregnam-se de volúpia e derrota
tocam o incontido, usam a lassa
capacidade de criar engenhos
a capacidade de ser para
garantir a insobrevivência do mundo.
Sal da eternidade aspirjo
no ventre profano da terra
do beijo da água com fogo
extasio a verdade do mundo
alimento minha palavra
com o pássaro estagnado da usura
creio no voo coagulado
e na semovente luxúria.
Entre o que estagna
e o que flui o poema
entre o que rasteja
e o que revoa a palavra
entre o transitório e o contingente
a prosa
entre o que é eterno e infinito
o verbo.
A morada da palavra é de barro.
A residência do poeta o poema.
O que permanece apodrece.
O que muda e não cessa a poesia.
As noite do sangue são amadas
o zelo do gozo as ressalva.
Multiplica o brilho resmas do sémen
coadas pelo púbis das galáxias adjacentes ao gozo.
O desejo lunar é como um pássaro crescente
na linha amarela do horizonte pousado.
O meu é como água noturna
que se ombreia com a primeira represa
da primavera e desata
quando não cessa a amada.
Golfa no vitral do meio-dia
e se derrama inutilmente
da óssea manhã na bacia
do sedento poente (o desejo).
A ânsia (como noite sangrando
e desejo branco)
é azul e premia
os músculos do fervor
abandonado do corpo
como delírio ou maçã.
( A sede que escande horizonte
dedico o insaciável poema).
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