Dormias como maçãs macias acomodadas
em bacias de algodão e litanias
sob égide de garboso candelabro
a lançar razias de luzes infantis
sobre lábios.
Sabias quando eu me inclinava
para sussurrar-te: a morte é vazia.
Apenas turvo substantivo, adjetivo
da improvável gramática da vida
ingenerosa e defectível. Mesmo que impune
é uma palavra doce, um dissílabo
do monossilábico latim advindo: mors.
Sei que tateio terreno putrefato
e empreendo concertos loucos quando
empilho palavras sobre a sorte da morte, esse fluxo triste
que desenterniza a dádiva da vida
ávida em perpetuar-se como um fungo
um esporo, uma mandrágora, um sussurro.
Se me acerco a teu coração e te conturbo
assim o ânimo com infausta mediação
é que me devoto à vida que distilas.
Estamos em janeiro, mas já auguro
enviar-te flores de setembro, antecipar
o aroma, reduzir todo expectar
em torno de ti e de teu coração varonil
a nada ou zeros esquerdos esquecidos.
Te sonho ainda como semente
te envolvo em ósculos ardendo
te sinto verter-me a beleza de ser.
Ao ver que as horas pararam
e o páramo redondo do relógio engasgou
o tempo engarrafou, te digo: este poema
é para amanhã: quarta-feira sem cinza.
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