Não se inventam cicatrizes
assim expressa o poema.
Afeição é só o modo em que me digno.
Resista a poema que não se explique
por si mesmo inteiramente.
Não adira a poemas desconfortáveis
de ademanes grotescos ou áridos demais
poesia que escape das prateleiras
ou das espécies poéticas vigentes
é suspeita e descanonizada
portanto. Não leia VCA nem em ônibus
VCA é muito ecumênico e pouco poético.
Para o gosto de todos. Coitado!
Conheço efebo pela pálpebra meio cônica.
Duvidoso do sexo ainda todos andam.
Panelas caladas, a ira política desaba.
É preciso obscurar o verbo vendido
e fatiado no mercado como bife de palavra.
Amordace a mordaça e veja a palavra.
Amordace a cega mordaça do grito pando
e veja a palavra no silêncio úmido.
Todo o pecúlio do meu silêncio
ofereço ao subúrbio.
À beira do silêncio o precipício do grito
mais fundo e mais claro.
Em alguma velha palavra estará a alma
quando o corpo fugir da parada.
Mágica oblíqua palavra poética.
É do prurido que verbo se prova.
Reparto entre memórias mortas
palavras ausentes.
Silêncio é uma palavra apenas.
Vim da infância como de um inferno.
Na página retumba a palavra pólvora.
À luz férrea não claudicante
de velhos alfarrábios aprendi
a ser vital à poesia.
A Cláudio Corrêa de Araújo, devo.
Vou ao futuro de mim rever o passado.
De estilhaços nus a luz.
À rasura e a uma cópia de cupins
devo a poesia.
A vida se faz abismo diário.