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Dom, Ago

destaques
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      (aos filhos Cláudio Netto e Murillo Gun) 

          Sete poemas para o neto (ainda no útero do futuro)

           longe da dor do real, da angústia viva

         distante ainda dos percalços e das lacunas

          dos emolumentos da culpa em riste

          da indigna realidade distante ainda.

 

          Feto e uivo, urdume e lampejo, oração e usura

          hino e tâmara, vinho e gema, claridade nua

          tudo do extraviado fóssil do futuro trago

          à luz desse labirinto esgotado, eneágono ponteagudo.

 

          Bisão rigoroso paste silo ávido do horizonte

          cardume de sombras embriague páramo inocente.

          Bosque doloso (irresponsável ante o homem, seu senhor

          que conserva com virulência seus pássaros e ramagens).

 

          Silêncio virulento apressado rumor rompe

          (e cálido grito corrompe).

          Da borda da entranha medito, perscruto

          a têmpora do poema, o sacrifício.

 

           Poeta desce úmidos degraus da palavra

          (escorregadia, sentida, teatral, adjetiva)

          segue escada onde terminava o anjo

          aproxima fontes, toma partido do lume baldio

 

          e das facções das coisas (que o escuro do mundo não perdoa)

          à borda respirável ainda recosta rosto desesperado (cinza)

          e antes de encarar o poema olha a beira do abismo rútila, brilha

          a borda do relâmpago que respira fagulhas.

 

                                   (relâmpago que o poeta sonega

                                    à alegria da claridade do poema).

 

Murilo Gun

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