03
Dom, Ago

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A Marcus Accioly 

Eu escrevo poesia porque vou morrer.

Porque a eternidade existe para a pedra

não para a carne

porque o espírito é de barro

eu escrevo para que não mais amanheça

para que meu rosto termine

e o olhar escureça antes do pássaro nascente

escrevo para que flores tombem na tarde

escrevo para que minhas veias gritem

e as omoplatas derruam-se sob pesares

sob fardos de medo do mundo eu ceda

eu escrevo para que mortos se amontoem

em meu ombro escuro em minha face esquerda

nos poços cavos de minha consciência nua

em meu leito abstrato e convulso

nos lençóis úmidos de esperma anônimo

escrevo para reviver espúrios amores

para derrota da noite e triunfo da morte

para gaúdio de madrugadas feridas

escrevo porque vou morrer

e preciso deixar um poema no mundo.

 

 

Murilo Gun

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