Meus cabelos brancos signos
estrelados de melancolia árida
ruflar de outonos
no desesperado crânio
um osso arredondado
calva faiscante impertinente
e minhas lágrimas vazias rolando
pelo rés da vida, cascata incontida
descabelada, perdida
como jorro cego de cones inconclusos
meretriz da palavra
dor abandonada (a seus próprios ésteres e sais convulsos)
irreparável hora que nada desvenda (pálpebra vencida)
tudo devasta, assimétrico pranto
caindo do rosto como ruínas, lixões mecânicos
abelhas noturnas, galáxias em despejo
inquilinato abrolho que Deus dardeja quando
se cansa da atrabiliária criatura que pariu
do barro sem culpa
envelhecer arado ímpio
opera num campo mudo
música de vidro
silêncio de alumínio
grito de zinco azula
pejo das estrelas
quando alma descarna
lembranças diurnas
e exposto à aridez das fraturas do corpo
espírito enferruja.