Não vou abandonar os horrores
nem demolir sofismas que me deslumbrem
ou esvaziar os intestinos íntimos do tempo
que desova suas mazelas horárias em meu rosto.
Das cores de um verão incruento
leio pálido credo do desespero
da coroa de uma moeda castrada
recolho dracma, touro imprimo
no olho de um sol de ouro oblíquo
rosto que máscara abandonou resgato
junto a uma prece do lábio extraviada
coração escuro ilumino com gema
falsa do infinito (ou da estrela de olhar maduro
estirado como carcaça no deserto corpo).
Pó projetado sobre ganga
sobre dons imperfeitos lamento derramado
sobre cinzas tristes penacho de urzes, égide
vitoriosa do fogo e visão de dilúvio de chamas
sobre escuro perfeito fragmento
de luz desenraizada, lâmpadas estupradas
sobre escombros verdade solidamente edificada
alicerces de cavalos sobre haras
galope de crinas nas espáduas do prado
(catraias sobreviventes do bisaco do poema).
Quando o tédio da planície, a certeza
dos caminhos (lampejos apodrecidos presentes)
o enjoo da claridade (ou a palavra
gramaticalmente correta e abusada)
atacam o poeta o mundo da luz desaba
vingam trevas sobre a dor da causa.
(Tédio dilapida a pena e a página acolhe
ócio arruína coração vulgar)
Abro o labirinto, ergo enigmas do rosto
devoro esfinges, estripo charadas da vida
me irresolvo, sego primícias, cavalgo
o espúrio (mas não preservo o espírito do tédio).
Ouro não tem significação
(é um insignificante da imaginação
trauma mineral da palavra, sonho alemão).
Pela via do verbo engendro
pratas ensandecidas por ídolos
de cinza lavrados (de pérolas castradas)
escórias de estrelas por demônios escavadas
dos detritos da luz extraio gemas de sombras
a loucura da usura me alimenta a alma
ímpetos bursáteis movem-me o que de ético
jaza em mim depois do gozo reprimido
músicas de esferas amedrontam-me o espírito
que deságios alicerçaram com perícia.
Luxo ama volúpia
verdade debênture falsa
(disputada no leilão da alma)
vivo mais e bem alto quando
ecoam sombras nas paredes
do vão labirinto da vida (anônima, sã).