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Seg, Maio

destaques
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Não vou abandonar os horrores

nem demolir sofismas que me deslumbrem

ou esvaziar os intestinos íntimos do tempo

que desova suas mazelas horárias em meu rosto.

 

Das cores de um verão incruento

leio pálido credo do desespero

da coroa de uma moeda castrada

recolho dracma, touro imprimo

no olho de um sol de ouro oblíquo

rosto que máscara abandonou resgato

junto a uma prece do lábio extraviada

coração escuro ilumino com  gema

falsa do infinito (ou da estrela de olhar maduro

estirado como carcaça no deserto corpo).

 

Pó projetado sobre ganga

sobre dons imperfeitos lamento derramado

sobre cinzas tristes penacho de urzes, égide

vitoriosa do fogo e visão de dilúvio de chamas

sobre escuro perfeito fragmento

de luz desenraizada, lâmpadas estupradas

sobre escombros verdade solidamente edificada

alicerces de cavalos sobre haras

galope de crinas nas espáduas do prado

(catraias sobreviventes do bisaco do poema).

 

Quando o tédio da planície, a certeza

dos caminhos (lampejos apodrecidos presentes)

o enjoo da claridade (ou a palavra

gramaticalmente correta e abusada)

atacam o poeta o mundo da luz desaba

vingam trevas sobre a dor da causa.

 

(Tédio dilapida a pena e a página acolhe

ócio arruína coração vulgar)

 

Abro o labirinto, ergo enigmas do rosto

devoro esfinges, estripo charadas da vida

me irresolvo, sego primícias, cavalgo

o espúrio (mas não preservo o espírito do tédio).

 

Ouro não tem significação

(é um insignificante da imaginação

trauma mineral da palavra, sonho alemão).

 

Pela via do verbo engendro

pratas ensandecidas por ídolos

de cinza lavrados (de pérolas castradas)

escórias de estrelas por demônios escavadas

dos detritos da luz extraio gemas de sombras

a loucura da usura me alimenta a alma

ímpetos bursáteis movem-me o que de ético

jaza em mim depois do gozo reprimido

músicas de esferas amedrontam-me o espírito

que deságios alicerçaram com perícia.

 

Luxo ama volúpia

verdade debênture falsa

(disputada no leilão da alma)

vivo mais e bem alto quando

ecoam sombras nas paredes

do vão labirinto da vida (anônima, sã).

 

Murilo Gun

 
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