Poema é palavra
posta em cheque
desova de multissentido
pausa do precipício
alma sem demora
poema é palavra
que não esmorece.
Verbo sem data de vencimento certo.
Espírito solto sem bula ou bíblia.
A pairar sobre página indefesa.
Vesícula de som exercício de ritmo
vogal em êxtase da frase abrupta
inopinada receita de vida abstrata.
Vocábulo sem amarra ou barreira de rima.
Sílaba libertada (do cânone métrico e cólume).
Viva a beleza não convencional
(anos contados em cem dedos)
não frívola (ou casta) mas inteira intensa
espessa abstrata ou futura (digital ou analógica
porém belo).
Viva (por mais tempo ainda
tempo redimido e não opresso
injuriado, contado time is money)
o belo verbal
poesia passível de todos os delírios
e enriquecimentos ambíguos.
Só palavra delira
só verbo sonha.
Homem é devoto e aio
bursátil escravo (escarro do pó)
prisioneiro da usura da jaula do capital
(algemas da ilusão do lucro cerradas)
presa da métrica do tempo
trena das horas do trânsito
doidivanas incomensurável
polioco vexatório
das graxas da lascívia catraca e vã rolimã
incólume ao belo
mero usurário de droga do próspero
meio, bucha, pino solto, presa
não homem ainda.
(A beleza sentou-se-me
dos joelhos fatigados de Rimbaud
como as retinas de Drummond).
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