DEI DIXIT
Roto Barro
No barro primevo, amada
mal se imprima a máscara
e a mão ainda trema
do gesto de revelar o rosto,
que sempre tênue pulse o traço
supremo e roto.
Engenho Barro
Primeiro, contemplou a forma
engendrou o barro e depois
ao trabalho das mãos condenou
a criação do homem.
TRIPOEMA
Cena ígnea
A zarabatana angulada do relâmpago
atraiçoa o céu rompendo a rombuda tenda
rasga véus de nuvens e dorsos de vento
as espáduas de vermelho trêmulo exibindo
aos olhares incrédulos dos homens.
O metal do crepúsculo
Horas pensativas imersas na tarde longa
sob a égide de um crepúsculo cujos metais
prateiam a noite, abrem o ventre do matiz.
Memória
Os chinelos arrastando fantasmas
pelos assoalhos intranqüilos da velha casa
contemplando orvalho dos abismos
ocasos de pedra e retratos antigos.
ECCE
Eis deposto o último sopro
no cofre forte da morte
Eis os eneágonos da agonia
desenhados no rosto dos homens
Eis o bucólico cenário deteriorado
eis que é findo o fôlego dos afogados
Eis os laudêmios demolidos
e a lista dos bens estraçalhados.
SINFONIA E POMAR
Num pomar em Tíbur
um efebo olha o outono.
E a brisa manuseia sua túnica cínica.
No olho adolescente late breve crepúsculo.
E flautas frígias
agudas como vozes de eunucos
são a ele oferecidas
numa bandeja de longos búzios.
ÚLTIMO POEMA
A poesia é necessária, senão quem saberia
das fortalezas derrubadas por um cavalo de abeto?
E das lágrimas com que Hécuba
fertilizou as várzeas da dor humana?
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