às fábricas da aurora
Ouro vago da sombra
que tarde enclausura
na cloaca dos escombros
que a noite anuncia
disperso nas entrelinhas do crepúsculo
entre os tentáculos do branco
e as pálpebras do úmido
lento sal fugitivo
âmbar sombra, catedral de lírio
lua de leite, estrela duvidosa
horizonte de linhas rochosas
e cristalinos lumes cegos
templo de ossos pétreos
e lajes onde reverberem
som angelical dos órgãos
e coro de sal e silêncio agudo.
Hímen ósseo, sol recluso
ração de orvalho nas folhas madrugadoras
e nas ancas da madrepérola
eriçando a relva de estrelas líquidas
íngreme levante que a noite alimenta
com grão de penumbra e cimento de mostarda
fímbrias de aço da felicidade
feitiço de Granada
imbricações da mica, éticas do feldspato
aduanas do orgulho
hangares de lágrimas torrenciais
gusas impiedosas, gramáticas vencidas.
Missas pecaminosas ambivalentes
lupas cínicas, togas movediças
sinos envenenados, harpas enfermas
bisões decapitados ao crepúsculo
eça dos cadafalsos, cera pobre dos velórios
impotente ante inóspitos poderes da morte
lento sal da boca dos cadáveres foge
para os alforjes do nada.
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