Sobre alicerces de ossos ergueram-se
palácios eslavos, edifícios de dor
solúveis topázios extraíram do enxofre seiva de pedra
abismos humanos edificaram-se enquanto signos
do ocaso crucificaram a palavra
luar de cavalos e auges estrelados construíram
poemas indestrutíveis
poeta khlebinikovando sempre
por entre arbustos e desvelos celestes
esculpiram verbos formidáveis
até que sobre pátina dos retratos brotasse cinza
até que lumes agudos convalesçam do escuro das mãos
por entre seivas a geometrias poeta acalente lua
ou deixe seguir seu caminho féretro de cisnes
porque ou sou um rei ou sou um verme.
Pálidos mausoléus hão de triunfar.
Ou sou o veneno ou sou a cura. Nunca os dois.
Pela palavra voluntária, tundra cerrada
escapa o poema.
Todos livores sorvo no inverno da alma.
A escritura do poema, olaria de palavras
é um ato ou sopro de barro atado
a colmeias de metáforas
e o enxame final do verbo
toma a forma do mundo
cortiço de aleluia.
Fugitivo das injúrias solares
e dos pântanos da claridade prisioneiros
amantes são escuros, quase subterrâneos
embora iluminem-se eternamente livres.
E na comunhão da carne e do espírito
inventem o desejo como liga
o bálsamo como cimento
e a fuga para o êxtase.
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