02
Sáb, Ago

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Com teus grandes olhos abertos

colhes o sol, extrais luz do avaro

e inauguras o pleno (magnésio válido)

edulcoras asas, voo de colibris instalas

nas taças das rosas sem conta

e enlouqueces o silêncio

és às vezes chama chumbo

às vezes chama

desejos tu cinzelas, esculpes anelos

e os pregas em meu peito impotente.

 

Cinzeis beiram o meio-dia

o desejo chega á tarde (tardo)

encontra o rio noturno insatisfeito

para dessedentar-se e crescer.

 

Mas nada sacia meu coração escuro

cheio de vales e muros.

 

(As armas de minha derrota

não deponho porque sucumbo).

 

Queres cegar estrelas (não vê-las mais ou ouví-las)

abocanhar o dom de Júpiter

dilacerar luz e colher

sal dos olhos fechados

(ou por córregos de lágrimas fartos correr)

desperdiçar coivaras e esperas

nichos de claridade cremar

resplendor do sol vedar

faças um poema.

 

Das mordaças do amanhecer

sorver a noite e o sino do galo (não natalino)

colher do cânion da garganta grito úmido

a biscoitar no esôfago.

 

Ao ermo homem orar

com galhos de açucena suicida.

 

A cada noite do páramo

(para onde se retiram as águias)

meu olhar mergulha nos jasmins das estrelas

sob fartura do luar prospera sede da luz

distante (e perfeita íris de Deus)

sob a safra do imenso

e o apanágio da brisa fresca e alta

me regojizo com a alma e o mundo.

 

A claridade é vítima

da crueldade do sol

que destroça a perfeição da noite

no páramo etéreo do Retiro

onde o espírito esquadrinha

céu noturno vasto e se distrai

com a matilha de topázios das estrelas.

 

Cada sede tem seu vaso saciado

mas ímpio e flácido

barro os aquilata e desmorona.

 

Do solo da alma só angústia medra agora

o desejo é mais que paisagem extinta

(como a Mata Atlântica).

 

Ao asilo do olhar finando-se correm

rios pálidos, desejos disfarçados

ou falsos, o riste da vida definhando

como touro esquartejado

(ainda pulsando o coração rebelado).

 

(Às grandes, límpidas e profundas

chagas da santidade

e ao odor malévolo da impiedade ofereço).

 

Poentes de sois vermelhos

levante de luas francas

a ocidente de mim

está o escuro, sina do fim

(e rima última e vital).

 

Ao acaso das águas de nosso tempo

na pele sórdida da Terra

o subsolo já se apresenta

para última cela de nossas almas.

 

Os rumos das sedes nos rios lentos sabem

já insaciáveis e de úmido e surdo suor

amortalhados ( o talhe da alma já cansado)

 

porque já não interrogamos constelações.

 

 

Murilo Gun

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