Resisto a tudo. Menos à tentação.
Autor é um termo já bem ultrapassado
como eu, poeta e tais.
Que tal delator de palavras premiadas
velhas ou não?
Proleitor de novas excrescências verbais?
Coletor de prole de fragmentos líricos?
Poeta já era.
É o operador de verbos transbordamentáveis
por exemplo.
Ou é o cara que tange palavras. Como ovelhas.
Ajunta verbos na página da alma. No redil livresco.
Ultrapassamentos do poeta mau destino.
Emana de mim algo poético, então?
Toda verdade é equívoca.
A mola propulsora do poema absoluto
é um hífen com um clips.
Ele transporta o poeta ao porvir
e o leitor ao escuro de si.
É que o leitor defronta-se
com seu si e o dos poetas complexos
depara-se com uma maré vazante...
seus vazios e fontes, sua resma de lodo
seu aval ou circunferência louca...
e se desprende do desespero
iluminando-se invariavelmente.
O poema absoluto já foi capaz de
fazer seu leitor renascer no futuro.
Dê a ler seu coração.
Melhore o enfarte vital.
É encarar fios acerbos de navalhas
ofício poeta absoluto.
É trabalho com ânimo
cheio de pântano poema absoluto.
E revisitar a gênese obrar
poema absoluto.
(Como eram afinal os WC’s do éden?).
Senti que pisei o ser quando
ontem terminei poema absoluto.
O pó do ápeiron.
Quando usei pela primeira vez
a palavra obsidiana
subi pelas paredes e... quebrei o traço.
À libertação do discurso ordinário.
Todo limiar tem seu ilimite.
O signo do infinito encantou-se
com o signo da eternidade
num quando qualquer ontem
e forem morar juntos.
Num homolar epistemológico qualquer.
A vida do desejo é irreconhecível.
O que irriga a vida, a veia e o
sangue vital é o desejo. Esse
senhor da razão e proprietário do instinto.
Por o poema não suportar
explicações e não ter cobertura
sentimental (ao não abrigar o
ego dissimulado), é poema absolutamente.
Rumino a palavra no coxo da página. Longe da alma.
Adeus, finito. Não mais me satisfazes.
O absoluto é prático e tirano.
Em Holderlin, a poesia substituiu a religião.
Seu evangelho é lírico e soberbo.
A humanidade não marcha: murcha.
Limbos não são mais brancos.
Certeza do absoluto da beleza.
À verdade do belo (nada literal).
Irrevelada no poema ainda.
Ao absoluto inacessível.
Mas absoluto.
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