03
Dom, Ago

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(ou flauta de osso)

Das sonoras vértebras do silêncio

demoram-se as melodias do ocaso

a medula do grito encaracolada

a uma coluna de silêncio e abelhas

derramava-se sobre ângulos e edifícios brancos

da flauta de vértebras (soviéticas)

canções inusitadas e sublimes saltavam

como corças num prado inexpugnável

jorros de sons ósseos (e sumos áridos)

se espalhavam sobre tímpanos e portas

(sobre a soleira do orvalho papoulas acampavam)

sinos calados à espera dos ângelus das aldeias

rumor de fêmur arrastando ossos fantasmas

o timbre do vento pelas escadarias dos anjos

no vestíbulo encarnado dos lábios

baile de sílabas, rush de decibéis ásperos

bemóis dos cabelos como crinas tremulando

de cavalos tempestuosos

do bale arenoso dos céus

– haras que Deus edificou com desmesura

lua óssea pendurada sobre lápides heroínas

a cinza impecável da sina humana

amontoada sobre os túmulos obscenos dos magnatas.

{jcomments on}

 

Murilo Gun

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