(ou flauta de osso)
Das sonoras vértebras do silêncio
demoram-se as melodias do ocaso
a medula do grito encaracolada
a uma coluna de silêncio e abelhas
derramava-se sobre ângulos e edifícios brancos
da flauta de vértebras (soviéticas)
canções inusitadas e sublimes saltavam
como corças num prado inexpugnável
jorros de sons ósseos (e sumos áridos)
se espalhavam sobre tímpanos e portas
(sobre a soleira do orvalho papoulas acampavam)
sinos calados à espera dos ângelus das aldeias
rumor de fêmur arrastando ossos fantasmas
o timbre do vento pelas escadarias dos anjos
no vestíbulo encarnado dos lábios
baile de sílabas, rush de decibéis ásperos
bemóis dos cabelos como crinas tremulando
de cavalos tempestuosos
do bale arenoso dos céus
– haras que Deus edificou com desmesura
lua óssea pendurada sobre lápides heroínas
a cinza impecável da sina humana
amontoada sobre os túmulos obscenos dos magnatas.
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