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O termo metáfora designa bem mais que comparação abreviada. Por isso, esta figura de linguagem pode alcançar uma dimensão muito além do conceito que se constrói em torno do verso "A mulher é uma flor".

Por extensão, podemos dizer que o romance Iracema (José de Alencar) representa uma grande metáfora da formação do povo brasileiro, pois ela não sendo uma história real, do original se aproxima através de um elegante jogo de sentidos figurados que refletem os fatos históricos.

 

Se a definição do termo é ampla, também deve ser profunda. Ezra Pound, eminente poeta e crítico norte-americano, disse que a “Literatura é linguagem carregada de significado.  Grande literatura é simplesmente linguagem carregada de significado até o máximo grau possível.” Que  máximo grau seria este, senão a palavra colocada, simbolicamente, movida por sugestão e incontáveis possibilidades de comunicar uma ideia? Recentemente, denominamos esse aspecto da linguagem de hipermetaforização, em um encontro com escritores da recém-criada Academia Aberta de Letras e Artes do Agreste, em Garanhuns/PE (30/5/2015).

Uma vez que o uso constante empobreceu a carga sugestiva de "mulher = flor," dizemos que o lugar-comum desta expressão a transformou em metáfora morta. De tanto ser repetida, não causa mais encanto nem surpreende o leitor. É nesse momento que entram em cena os poetas como revitalizadores de uma língua, cuja função é criar expressões novas que, além de provocarem e acelerarem o pensamento criativo, aumentam o vocabulário do idioma, quando se inventam neologismos e sugerem sintagmas complexos supermetaforizando o pensamento.

Do outro lado das mortas expressões despoéticas, situa-se o que consideramos sublimação do sentido figurado. Eis apenas dois exemplos. O primeiro, de Ferreira Gullar (Escrito): "O ouro é híbrido - flor e alfabeto./ Osso de mito, quando oiro é teia-de-abelha." O segundo, ditou-me o próprio autor, Vital Correa de Araújo, via celular, assim que os versos foram criados: "invernosos labirintos e inomináveis tigres/espelhando em seus nichos anavalhados/ rígidas e austeras/ mandíbulas rosadas." Se nos costumeiros versos fáceis, não se necessita nenhum esforço para entender o significado das palavras no contexto, nos poemas de Vital e Gullar, nunca se chega a decifrar o que eles dizem ou pretendem dizer.

Compreender que a literariedade exige um extremo senso de percepção cultural e estilística, embora momentânea. Entendendo assim, é possível assegurar que, a cada releitura, os próprios autores mudem a visão sobre o que escreveram. Pois neles, e nos outros mestres de nossas letras, a variação de sentido é permanente, fugaz e múltipla, ao máximo grau possível. Aproveitando parte da máxima de Vinicius de Moraes, o sentido não é eterno "posto que é chama."

Admmauro Gommes

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Poeta, Professor de Teoria Literária e

Literatura Brasileira da FAMASUL (Palmares/PE)

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Murilo Gun

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