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Dom, Jun

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A poesia absoluta é o exercício pleno de uma atividade espiritual livre dos percalços da rima.

Que abrange a totalidade do outro e do si, do mundo e do verbo (que é mundo também). Sob o signo da solidão, escrevo sempre tudo.

 

Estado de ânimo (stimmung) interiores me assaltam com a violência do ímpeto. E me arrastam à vontade do poema (heterônimo, impessoal). Acode-me súbita visão superior lírica.

A dor que é o sumo do bem para Epicuro, para a poesia é amor. Como o amor e a dor é propriedade de Deus, a poesia também o é. (embora o amor seja hoje a úlcera dos sentimentos – e diminua o homem).

Que os usufrui com fervor. Eu e ele.

Sustir a roda ixioniana, embora por dois instantes é vital.

Se o corpo não é tumba onde jaza viva a alma, o poema não é receptáculo de mensaginhas românticas ou não.

Se no Tártaro, Íxion manipula a roda de fogo, na página, o poeta devora a palavra, vomita sílabas, fervorosos hiatos e elocubra metáforas, à roda das quais constrói de palavras poema inaudito. E não chora.

Não trata poema absoluto do destino do corpo nem da jaula da alma. Só de palavras.

O que se detecta, pelo poema, era que quanto mais a fragilidade do corpo, maior o prestígio da imortalidade – e sua sequência pela vida (interior) eterna. A longevidade do terceiro milênio atenuou bem essa necessidade de sobrevivência extracorporal.

Se até a eternidade é inútil, a morte o será. Vacinas antidecrepitude virão. E a poesia absoluta triunfará. O liame virá.

Se a lei da morte deixasse a carne, o poema se alastraria como peste. Eis o oráculo vital.

Já o corpo espiritual é outros 500.

Não só o carnaval liberta o corpo, a poesia também. Porque é festa (galante) da alma (francesa ou não).

Se fui o que quis ser, serei assim. Somente.

Todo o erótico em poesia absoluta se resume no que Schopenhauer disse outrora.

São os órgãos genitais que se buscam, enquanto as almas gêmeas julgam que se encontram. Num encontro marcado pelo Amor.

É que a natureza sórdida e sub-repticiamente persegue a procriação, auto sobrevivência, mesmo à custa de romântico amor. Os fins reprodutivos são manejados ardilosa e ininterruptamente. Veja o caso da reprodução dos salões de beleza, como mágica. A vontade de viver urde artifícios amorosos, encantamentos e prazeres com o corpo, tudo em nome do feto.

Aquele impreciso enjoo pós-coito, lassidão e algo nauseante (ou a chamada depressão pos-coital- que nem biscoito atenua) não é nada mais que a satisfação natural, pois, satisfeito o apetite imediato, se esvai o encanto, porque a sobrevivência está em processo espermatozoidiárico de fato (do feto) acontecer.

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Murilo Gun

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