Gala Eluard abandonou o ménage à trois, com o esposo Paul (poeta de Liberdade) e o pintor e narrativo Max Ernst...
e pulou para Dali, seu Salvador, a quem salvou de impotência crônica aos 30 anos. Dali se ornamentou para o ansiado encontro. Pôs camisa de seda roxa, com mangas arrancadas para exibir as axilas azuis, portava, no esguio pescoço catalão, uma coleira de pérolas, calção de banho vestido ao contrário e um gerânio atrás da orelha, relata William Wiser, em Paris na década de 30. Dali conquistou Gala Eluard para sempre pelo odor. O perfume que o artista gênio inventou composto de excremento de carneiro da Catalunha fervido em óleo de peixe, com aroma de alfazema selvagem.
Assim que Gala irresistiu, Dali pespegou. “Juro, não sou coprófago”. Era uma alusão à merda (merde francesa) que detalhava em seus quadros com precisão amarela.
“Eu, conscientemente, salmodiou o escroto Dali, abomino a coprofagia, aberração intensa... mas considero a escatologia um dado tão aterrador e belo, quanto o sangue fluido ou minha fobia por gafanhotos”. Acho que ele lembrou o filme Cão Andaluz, em que um olho é cortado como celuloide à fina navalha (filme surrealista de Dali e Luiz Bunuel).
Ao descartar Max Ernst – o artista alemão apaixonado, Gala Dali enveredou pela linha contínua da fidelidade marital e tornou-se quase deusa. Ernst deu-se bem. Casou com a voraz e rica Peggy Guggenheim (já devorada por Calder, Picasso, Hemingway e centenas de artistas famosos). Estive duas vezes na casa de Peggy, em Veneza, onde hoje é um museu com centenas de obras famosas que pertenceram a ela. Vi a cama de Peggy... e sobre ela os dispositivos aéreos de Calder (readys).
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