Me embriago com palavras antes
de tocar o lábio vão à poção diária
vital do licor selvagem. E ao vir
do delírio verbal autêntico vejo-me
pinçado pela geometria bêbada
de Daniel Santiago.
E o poema derrama-se pela toalha da alma
Impregnando de martírio o coração da palavra.
Do Retiro das Águias, do páramo etéreo, sinto
pássaros e o grito do mangueiral me assombra.
Sinto o urro do tapete de relva, o arrulho do prado
a ave a alisar o orvalho transparente
ígneos signos ocupando a página
o verão sul a irromper sem trégua
através dos olhos das moçoilas a verdade
nua e crua, a nudez da palavra.
Das veias a vibração da garganta pássara.
O tesão da poesia do falo de Apolo
estender sua malha ambígua e árdua.
O verbo berrante do ânus mirabilis
a moeda do advérbio rondar a sombra do cu
peculiar do numismata envebecido
com moedas arruinadas.
“Amortalha-te no pardacente fumo do inferno”
leitor fugaz o solerte
e o leito de sangue parecer
úmida fonte de orvalho ou rio de rosa podre
no cio do verbo (iluminando cascata de palavras).
Palavras que o poeta espreitava
através de um manto berrando
à sombra do basalto berrante:
como um vermelho infernal.
Ah, cansaço de rosas retóricas
grinaldas de versos sem viço
muros de areias desmaiadas
furores de um verbo sem data
castiço como amapolas polutas.
{jcomments on}