Das quartas-feiras do inferno vêm dúvidas.
O de que falo é duro. Dante sabia-o.
Sei que lenho das almas melhores
dá boas fogueiras, porque macias
as más almas não queimam
fácil. Toda ruindade (essa instituição humana) é morosa.
Quando me indagam o que trago
no último leito, além de canabis e uísque 21 anos, digo:
além de esquadro, compasso e pênis ficto
um lambedor de alho
alguma cânfora e duas metáforas
além um novo joelho para Capricórnio
(que anda a mancar nos círculos do zodíaco).
Uma nova visão de mim (menos vital, mais real).
Além das tintas vivas (que uivam) do crepúsculo
gatos alvos, tigres sem dúvida
olhos nulos, cambraias virgens
e aroma de musselina nua
além das ambrosias diurnas
calendários de outubro (agendas vermelhas da utopia)
velho tinteiros (como os do meu pai Cláudio
seu relógio Mido e sua Remington)
inclusive incêndios à luz de sódios
e luvas de pelica para masturbação no escuro
(da arfante enfermeira).
Além de outros aléns imensas várzeas
cheias de urzes amarelas (sem mais lazeres)
e cruzes fincadas do ombro de Cristo.
Além de asfódelos novos para uma última ceia
Ou mastigação solene de agapantos úmidos... antes.
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