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Dom, Jun

destaques
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O inflexível (e divo) Platão, republicano doente, fanático da lei

e vertiginoso arauto da realidade política

ático príncipe das leis éticas e rígidas (e áticas)

porque universais reflexos do absoluto, aponta

obstinado braço firmemente ao ermo, ao fora

(indicador dedo em riste como punhal roliço)

intransigente, catártico, ditatorial aponta

porta afora de sua sacra República a soleira

e expulsa o poeta

indicando-lhe o vazio e a abstração

o limbo branco e o exílio dântico, pleno

como morada do ser da palavra

a ostra de seus olhos filosóficos

fuzilando indignação (concha e lira de luto)

e justa aspereza, além

da certeza de que seu gesto salvará o Planeta.

(A todos abrindo a porta estreita da Filsofia).

 

Não porque mordeu uma maçã qualquer

mas reimaginou a Criação

usou o verbo com operário ao andaime

(para suplantar Babel atingir o céu).

 

Repetindo Deus Platão expulsou o poeta

do paraíso da República

suas Leis com fome de porvir

devoraram o poeta.

 

Tua voz vem da sombra

de uma sombra de uma sombra

tu também és só uma sombra

não podes ser um nome.

 

Tu que vens nu dormia sob este umbral

és sombra do nome apenas a sepultá-lo

na pedra (tua sina).

Não és digno da Ideia.

 

Tu, que simulacras sem cessar

inventas como um louco pleno de delírio longo

sem pai desprezas os sentidos da realidade

(criando dela imagem falsa, distorções fundas)

maquinando como um sátrapa novas palavras

de ver e ouvir, de sentidos quase impossíveis

ou desastrados, impregnados de perturbação

 desregrados, ressentidos, contrasseres

escavando como um alienado caves de verbos

possuído por musas excessivas

demorado no imaginário (refúgio incivil) esperando

expressões de um tempo ainda por vir

de um será sem peias ou senso, estás fora

vate delirante (e teu ímpio estilete insensato)

talhando fantasias inconvenientes à lei

subvertendo as normas que acorrentam

o presente a nós (citadinos perfeitos).

  

Fazes mimetismo inverso (em verso, o que é pior)

és avesso ao modo comum das coisas humanas

e devidas (que tornas ébrias e devassas)

crias impossibilidades tenazes

tão patentes que parecem veias

fruto de um entusiasmo ímpio e danoso

ao estabelecimento absoluto.

Ignoras expectativas do auditório.

Distorces as verdades da palavra.

Iludes o sábio com teu verbo sem nome.

Invertes a figura das coisas (com verbais sofismas)

o incomum senso inauguras

aturdes com tua palavra a realidade

és impróprio, assimétrico, ambíguo, impassível

não mereces guarita da norma

albergue das instâncias públicas que devassas

és contra a maioria que te teme e ignora.

 

Estás fora da pura e definitiva República

junta-te a uns dantes quaisquer

após o tempo antanho

busca, poeta desedenizado (dedetizado)

o tugúrio do mundo para tua obsessão do moderno.

Murilo Gun

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