À mãe derrotada da bastarda vida
Vejo hospitais esclerosados agonizando, úlcera
das enfermarias alastrando-se
chegando rápido o oxigênio da agonia
anônimas dores dispersas no brancos corredores
leitos em desalento, tubos entupidos bocas
seringas injetando infames vidas
(apenas adiando o cadáver
e aumentando o lucro hospitalar)
lençóis desfalecidos, rios
de vômitos, oceanos de uivos crescentes
dos infortunados pacientes
alma submersa na tinta dos holofotes
respingando nas camas
e ovários da uteí
no bloco da água escura a morte esperando
a última entediada agonia, o sopro extinto
entediada esperando o sinal negativo
a luz horizontal do linear painel
a luz verde e fria do fim abrir
o escabroso caminho
a estrada do confim já iluminada
horrorosa trilha com cetins do inverno
ornada com perícia final de bisturi
a passagem crua flanqueada
ao desastre do ser aberta
à veia do vazio absoluto (como último poema)
o naufrágio das cãs
no sulcos acres do morto constatada.