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Dom, Jun

destaques
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 Ninguém é meu nome

sou da longa linhagem do nada

incompleto pária, touro castrado

épura sonolenta, vitral de soslaio

cacos de cores, celofane amordaçada

gravura de cromo, cinéreo instante

sombra poluta, adiada dor vital.

 

Nasci para ser ímpar ou dúbio

pária impuro

e vou embora logo para quando ou insabido onde

(assim que o futuro terminar).

 

Onde é o lugar que habito desde ontem

é assim que volto ao passado de ser

(recuperando as carnes desperdiçadas, talvez)

ou apenas completar o desser.

 

Meu tempo é sempre trânsito

mero pretérito imperfeito atravessado fui

futuro é nunca

sou ultrapassado pois (porque)

meu nome é Ninguém.

 

a Séssilu e Uéssido

                        irmãos amigos de Ninguém.

(Será que Ulisses mediu o falo de Ciclope bem?)

Acúmulo de auroras desmensurando

Auréolas de luzes em expansão vital

para aprazável canto propiciar

aos mais profundos  e dissonantes escuros

a noite se construindo de dados claros

adornada de vestígios impuros (e caliça louca)

vinho resolve a vontade, sede atiça o ser

devolve sentido todo o plural celeste

todo coro do cosmo a poema se apresenta

em torno do sentido do voo de abelha.

Colheita de porcelana ou frutos avaros

à mesa da palavra. Só restam

então embriagados dias, luz de afã

e noites de infinitas lã.

 

Sonho com arquiteturas velozes e nada vãs

com velocinos de lã ilusa aos montes (além

de edifícios lentos ou amáveis baluartes de nada

sonho com geometrias bêbadas e indóceis corredores

muros caídos de probos labirintos, sem centro ou êxtase)

cujas sombras levam a lúcidos touros

feras do coração sem rumo

caminho que a morte percorre dia e noite.

 

Sonho com dilaceradas colmeias e fatigado néctar

anseio por vicissitudes e edifícios desmaiados

 

do pacto que fiz com objurgatórias amáveis ou não

sobraram preces genuflexas, cócoras de orações

ditirambos podres e um cordel de canela sem nome.

 

Sonho também com tentaculares utopias

chegam a meu sono campos do futuro.

 

A mais velha parca pedi fio de prata

um condão de tempo para a mais jovem

e a tesoura parda pedi à outra.

Vivo a escandir sem pressa

(sem a pressa que aniquila o verso)

trissílabos inteiros, inteiriços e decassilábicos pés

de trena em riste furioso

rimas perdidas garimpando num baú vermelho

(como do olho de boi o selo)

em odres de sílabas velhas

ou da víscera algo melodiosa de vetusto dicionário

algum alfarrábio de fonemas finados

e da bateia desse árduo ouro de som talvez

ânus castos, portulanos áridos, mapas sem norte

e lençóis de sílabas devassas

envoltas em hiatos de musselina nua.

 

 

 

Murilo Gun

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