São três da manhã, desde as uma procuro o sono (até debaixo da cama),
acho que ele se escondeu na pálpebra vital. Então... o que fazer?... poema. Consulto o termômetro alemão: 19º celsius e 82% de umidade, no Monte Magano. E o pior: amanhã, às 7, (daqui há 4 horas) vêm as faxineiras.
Há uma cor em algum lugar da salinha
a mesinha gelada, garoa entrando pela brecha do losango de vidro.
Sinto solidão bem ajustada caminhando
num chão áureo de rosto vasto. (Não
sei donde veio isso: são só palavras, talvez).
Solitário vital vive num vale morno
entre seios duros. Bons. Como bumbuns.
Há um dom em cada morro de Garanhuns
e uma dor ínsita nas palavras bem ou mal ditas.
Mordo um cacho de uivos vivos. Lá fora
do vidro da janelinha defronte o escuro é breu.
(Isso não é poema...).
Espero a manhã farpada. E o sol teso.
Lembro que o crepúsculo de ontem alterou
teu humor, não vieram desvelos e a penugem
da pele ficou hirsuta. Algo de salino chegou.
Um lento silêncio e sorrateiro se alojou
entre nós como um muro de abelhas.
Pensei num óvulo e em falésias nuas.
Muralhas irromperam da varanda
portas fecharam o grito.
A noite segue como uma pera imperfeita.
Ruídos morrem. A sombra é minha.
A solidão exige um texto. Sem escrúpulos tardios.
Deste-me então mordidas de canduras.
O poema é um circo de palavras.
Do fulgor do estribilho escuro
vem a infância do versículo
da teia de cinza vem o epíteto impróprio
ou impropério atento
a ecoar nas platibandas dos tímpanos
do lento amálgama de palavras insolentes
vem o poema, salta
a metáfora desonrosa (e murcha).
O poema aniquila o verso.
A solidão é o que sonha a multidão.
Sou apenas um sonho de meu avô delirando.
Vive do acaso a palavra poética.
E do mercúrio febril.
Há uma raiz de silêncio em mim
que rebenta o branco grito da página.
Grito de sílex vindo
da garganta do feldspato.
Aríete de sal das fortalezas insossas.
Asfódelos no jantar, hoje.
Bem assado assim com um também.
Do silêncio puro dos olhos fechados
do pranto empurrando a pálpebra
das pupilas arrancados pela passagem
do exílio dos olhos.
O Brasil corrompe.
O arado é o detrator da semente.
Dedos detestam alianças. Amam cutículas.
Todo nome tem sua areia. E nódoa vital.
Lágrima só de granito.
Pranto de cimento amado.
Gesto só desconjuntado.
Paz só infeliz.
Sífilis só no prepúcio.
É belo incêndio de libélula.
Cárceres pra liberdade cresçam.
Lágrimas novas não são salgadas.
“Quando turista morre envenenado por
cogumelos é apenas a paisagem que se vinga.”
Desemprego... não pra carpideiras.
O Brasil merece.
A dor antes aduba.
O exílio é excelso.
Orvalho é mais vivo sobre lápides.
Rosas nas campas desembrocham mais santas.
Papoulas são lentas. Ópios rápidos.
O vácuo é divino.
A lua das uteís é linda.
E de acrílico cinza.
Archotes detestam fósforos.
Tomo memorial há 30 anos para a poesia.
Vômito é preciso. É vital.
Os astros do cume comemoram o quê?
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