Percorri o acaso
seus ângulos súbitos, práticos
e nômades cubos inabomináveis
inusitado ermo redondo
cavalos contra o abandono
suas tendas de sábado
talheres persas
oblongos globos de pó
e veredas amarelas (como as porcelanas de Babel)
botões submissos
invisíveis ou rotas trilhas
redondezas mórbidas
aventuras cinzas.
Percorri o acaso como
um cego anda sobre fogo
como uma mulher nua
pousa numa cama branca
como um som dorme na tecla
ou um touro procura o sono.
Ou uma borboleta – flor flutuando – cria o ar.
O acaso do tempo não vem a caso.
O inciso do que abre o próximo parágrafo.
O que vai acontecer num lauto sábado.
A vetustez de um domingo de água
aceso ao acaso.
Severo acaso preparou meus passos.
E para meus olhos tristes e pacíficos
trouxe certeza, papoula e tulipa
além de luneta e pálpebra de borboleta.
Acaso feito de silêncio lilás que cresce em muros
ou do movimento de um torno usinando.
Acaso dos olhos das janelas de janeiro.
Acaso de navalha espanhola.
Ou poema de Murilo Mendes.
Acaso de geômetras azuis
e abcissas capazes
de catetos e triângulos
acaso de álgebras vermelhas.
Acaso o branco de tua alma
ainda estremece como outrora?
Acaso de aloés e madresssilva.
Acaso de mim.
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