Sobre velórios cai fria lágrima
temor vivo se alastra
se espalha náusea
cai noite pesada, sombra de pedra
a hora se posterga como um nada
cai túnel de luz amarela, incêndio de prata
cor se esfarela, traços mugem, grita a queda
cai odor a defuntos
enjôo de presuntos
cai olhar sobre face doente
corpo coberto com flores de horta noturna
sobre velórios cai madrugada de gnomes
como anônima
chuva de cinamomos.
Laje já se adivinha
(o céu do morto é a tampa do caixão por dentro
e o peso da terra que sobre ela cala
é a única certeza do morto)
e sua carga fria
sua pedra viva e silêncio úmido.
Só vermes são eternos.
O horizonte da vida é dúbio.
(velório amarelo teu destino).
{jcomments on}