“De vez em quando a insônia vibra
com nitidez de sinos”
e cristais recrutam a impossibilidade da linguagem
para fazer cirandas de andorinhas (e poesia)
na intranscendência da paisagem
com a desmesura impropriedade
dos mesmos cristais entranhados
no ventre de um vitral
a vida e sua lida elegante usurária
ou pedregosa e anônima faz
com que se rompa a harmonia
na terra dos homens (concessão de Deus
com data vencida talvez)
tudo o que extravase do poema
sela pasto de escombro
solo de ruína
esterco solene, oficina de verme bursátil
túmulo
(a aventura do homem prossegue
imprevisivelmente, dolorosa
sina inútil carrega
nos ombros que Deus sopesou de abandono
essa via de estreita saída
está a ser bloqueada, apta
para que se partam todas
as cordas tensas da harpa insuportável da vida
eis o que cabe ao homem
que cai do lado esquerdo
e esmaga o coração
eis a visão sublime (porque poética
veraz porque poética)
do poeta luso maior
Carlos de Oliveira
a quem dedico este poema.
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