Minha voz sal alevantando-se
lua de cócoras, pâncreas elevado
gerúndios dançando balés brancos
silva de adjetivos em trânsito
minha voz é uma rua de Istambul na primavera
uma fuga do esôfago para a cela da alma
a palavra revascularizada, sintagma
afrontando banalidades
minhas voz é um céu de madrepérolas
que a concha e a mãe da párola acostumaram
minha voz é torvelinho lento de abelhas
uma catilinária contemporânea
o amplexo da página
o rascunho da alma
minha voz é um esteiro, uma peleja, ato
da palavra enlouquecida no palco mais louco ainda da lauda
minha voz hímen da hermenêutica
preserva, selo insapiente sabota
é desafio a que o espírito se entrega
iluminação de barro do verbo
é um gozo e uma declaração perplexa
vinda da garganta viva de palavra
a se estender em lençóis de delírio
frenética larva de abutre, cadáver alevantado.
Minha fala vem do âmbito alado de pássaros
vai ao limbo branco da página (seu purgatório alado)
falo de levante baixios, frações do imo
não falo de avos, encantos nus
ou imposturam, transcendências ocas
banalizado a palavra verbo domesticado.
Do silo de silêncio de solidão do Mosteiro/ 22.01.2012
Reencontrado no Retiro do Espírito, em junho de 2016
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