03
Dom, Ago

Poemas
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Manam fontes do meu desejo

ante a desordem dos  círios enlouquecidos

de funéreas brasas mortas

e a cega luz que atrai o homem

calmos séculos passam como hordas de hienas

a devorar o tempo onipotente e apoteótico

sombras frágeis me imaginam antigo e pleno

do paço da igreja se me impõe harpa de vento

vejo o braço hebreu de Moisés

sulcando na pedra as palavras de Deus

sinto a nave meditar no meu peito

olhos adentro e a floração flamejante

do gótico arpejo inundar-me a boca

à sombra de anjos e nichos

a parcimônia da palavra impede

a virtude mística da vida expressa ao mundo

cerne o campanário sino impotente

a leveza da nudez, o velame e a madrepérola

a deliciosa graça do instante vivo e solto, a sólida hora

o tempo animalesco devorador de corpo e alma

a virtude da beleza exposta como fratura bela

a verdade intacta como abismo ou moça.

 

A sóbria nudez do ser, o dom do desprazer

o esplendor que ofusca,  o verbo admirável e novo

os exatos resultados do acaso, a liberdade poética, alma

comovida do verbo profundo ante pálida

sombra da palavra dissoluta, toda a graça

depositada por Deus com minúcias expostas

no rosto das mulheres, cútis e calma

espírito sem sombra, dores de pedra, som ferido.

Gótida luz dos olhos dos lobos.

Cornucópias de cinzas para Fênix.

Turíbulos azuis. Arabescos de luz.

Círio para sátiros. Sereias de sombras.

Candelabros de sanha e penumbra.

Carcaça de anjo.

Úmida música de algo, sonho de relva.

 

Luz oblíqua lança

sombra sobre os olhos de vidro da mesa.

 

As nervuras súbitas, os estorvos bruscos

e o óbito do acaso pulsam em minha veia vasta.

 

À noite do tempo submirjo amanhã cedo.

 

É noite nas abôbadas e nos êmbolos mais claros.

É noite nos ângulos e nas mentes.

É noite nos escombros, nas ruínas, nos rostos

e na palidez dos arcos.

 

Dobre de ogivas, arcos dissolutos, cismas dolorosas

preces ajoelhadas, incêndios nus, luzes horizontais.

 

A noite é uma catedral distante

de viés azul pálido e frêmito de barro.

Onde habita deus gótico.

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Murilo Gun

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