Sou o açafrão e a grua
supuram o húmus e a maleita
o extrato e a costura
a beladona e o nimbo nupciam-se.
Sou a volúpia e o musgo
o agouro e a goteira
orvalho que beira o pâmpano
a touceira e o pântano.
Eu sou um tanto pássaro
e um tanto aço
um pouco cansaço
e áspero como Lázaro
a insistir na devolução
da alma para glória do corpo.
A canela morreu
sofre o cinamomo
a magnólia chora
uiva a madressilva
a mirra não se consola
não se consola a mostarda
(com a cor branca do crime)
todas as especiarias foram
ao enterro da canela
numa tarde em que corvos solitários
comemoravam a ressurreição da verdura
alimento de suas vítimas
futuro de seus filhos.
As exéquias da canela foram frias
parecia esgar de um oboé
o aroma mortuário do som.
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