03
Dom, Ago

Poemas
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SALADA D’EROS

Mastigo alfaces

enquanto moscas

copulam no tomate.

 

 

TRISTEZA

Pela avenida dos pendões desfila

carreta de cana seca, palha, pó e cinza

enquanto sol canaviais fuzila.

 

FUYU

Borboleta flor flutuando

a Deus ébrio de orvalho

donos das manhãs invernosas.

 

PÉ D’ÁGUA

Com pés d’água

nuvem de chuvas grávidas

assombram coivaras.

 

VERDADE

Larvas citadinas

expectantes e famintas

aguardam sino ou caixão.

 

VELHO APOCA

Mesmo o velho apocalipse

parece metafísico, porém revolve alma

como gozo à carne.

 

DURA PLUVIA

Facas d’água de chuva

com translúcidos golpes de gotas assaltam

malha do rosto.

 

 

ESTAÇÕES DA VIDA DE UM POETA

(quintas confissões)

 

Da série Amores Estranhos

 

Amo profundamente

endecassílabos dactílicos

e morfemas perfumados.

Amo excessos de gramática

e adjetivos ingênuos.

Amo sobretudo

sobrecasacas de mortos

e quando posso

vou ao enterro puído de sobretudos

de sobrecasaca

(e sobrepeliz rubra).

 

Silêncio e sombra se amam.

 

 

CONCERTO AO NORTE

 

Ouvi a quinta valsa sonâmbula

num piano de Tocantins

e nunca mais esqueci.

 

RESPOSTAS A PARMÊNIDES

 

Como poderia

parecer o que não é?

(Sendo assim...).

 

POEMA MODERNO (CENA 1)

 

Teatro de cães abstratos

por cadelas de porcelana apaixonados.

 

Só a morte ou a rima nos separa.

 

VISÃO PERSA

 

Em Babilônia vi

Nabucodonosor gesticulando

muito (e os generais preocupados

com a campanha da Babilônia).

 

 

 

Ela praticava latim, piano, musculação

toda quinta-feira depois do expediente

na ala mais grave da clínica esquizofrênica

e nunca perdia o mau-humor.

Era sincera, autêntica, pesarosa sempre.

 

Considero o céu, sou aritmético com luneta

(e apaixonado por estrelas).

 

Mortos não usam mais sobrecasaca

enterram-se com camiseta pálida

(que nem cobre a alma).

Nem se olham no espelho

ou sentem o coração

(latindo por um final feliz).

Sumiram da vida, devolveram o sopro

que receberam gratuitamente

e usaram muito mal mesmo

levando a vida a uma rota sem saída

desperdiçando tanto alento para nada.

(E Deus é que é estelionatário?).

 

A TIGRES DE SIMETRIAS ABOMINÁVEIS E A BORGES

 

Para tigres não há limites. Hão de fazê-los homens.

Saltam como linces sobre alces

tranquilo sangue dos cervos rasgam

estraçalham etílopes (destroçam suas clavículas quase aladas)

no voo conduzem infinita e carnívora

ternura dos espaços preênseis

dos cumes também traem brancura mais ágil

mescla com suas listras rápidas

fuga e susto das vítimas

ao tempo dedicam fervorosos e ávidos

simétricas cópulas êxtases selvagens.

 

5 POEMAS DE OUTUBRO

 

Silêncio pousado entre ruínas

e um grito dentro do escombro

emboscado como fruto no escuro.

 

O consumo da miséria cresce

a olhos nunca vistos ou castos.

 

Fúria e euforia dos especuladores

refratam-se nos ágios do nojo

e na lenta cotação dos corações

assaltado por juros.

 

Pelo cálamo ou pela pena

pela espada ou pelo gládio.

 

O outro eu mesmo

és tu ou não sim

exato pois não.{jcomments off}

Murilo Gun

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