Amigo,
Levanta-te para que ouças a uivar
o cão assírio.
As três ninfas do câncer estiveram bailando,
meu filho.
Trouxeram umas montanhas de lacre vermelho
e uns lençóis duros onde estava o câncer adormecido.
O cavalo tinha um olho no pescoço
e a lua estava num céu tão frio
que teve de rasgar o seu monte de Vênus
e afogar em sangue e cinza os cemitérios antigos.
Amigo,
desperta, que os montes ainda não respiram
e as ervas de meu coração estão em outro sítio.
Não importa que estejas cheio de água do mar.
Amei por muito tempo um menino
que tinha uma peninha na língua
e vivemos cem anos dentro de uma faca.
Desperta. Cala. Escuta. Ergue-te um pouco.
O uivo
é uma longa língua arroxeada que abandona
formigas de espanto e licor de lírios.
Já se aproxima da rocha. Não alongue suas raízes!
Chega perto. Geme. Não soluces em sonho, amigo.
Amigo!
Levanta-te para que ouças uivar
o cão assírio.
(Tradução de Oscar Mendes)
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