(COM NUNCA: LADAÍNHA DE DEFUNTO)
PARA VELÓRIOS POÉTICOS
Vital Corrêa de Araújo
Do ctônico para o etéreo vás num sopro
passagem sem ventre, óssea hospitalidade.
O que há dentro, no fundo da cova (tão longe do útero)
além de ossos
resistindo inutilmente ao tempo?
Responda, leitora!
neste 1º inescrutável de novembro
ante poético cemitério de Santo Amaro
onde ris e celebras festa da poesia fanadano lírico velório de Sílvio H.
As peias da morte, enlaces metálicos, malhas insones
correntes eternas, jaulas avaras de nossa vida parca
que nos prendem ao confim do fundo da cova
são de aço eterno (metal que Deus bem temperou).
Nada nem ninguém (divino ou não) nos libertará delas
(bem atados que estamos
no outro lado do útero).
Sentença do Juízo Final quem exara
é coveiro.
Atestado de óbito moderno comprova dupla morte
da alma e do corpo.
Nunca mais meus olhos verão luz
nunca mais meus lábios tocarão vinho.
E minha boca boceta lírica.
Nunca mais considero estrelas. Estou morto. Posto.
Somente, podre semente.
Nunca: ladainha de defunto.
Rosas vivem da graxa dos mortos.
A morte é uma gueixa de argumentos de nojo.
A morte real é o esquecimento
só após o inventário cumprido
processo fúnebre concluído
taxas devidamente pagas ao diabo do notário a morte começa (definitiva).
(A morte real é o esquecimento).
Só após o ritual de cumprimento do velório
a ressurreição do luto em fiasco 10. a morte (que é mulher) começa.
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