03
Dom, Ago

Poemas
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(COM NUNCA: LADAÍNHA DE DEFUNTO)

PARA VELÓRIOS POÉTICOS

Vital Corrêa de Araújo

 

Do ctônico para o etéreo vás num sopro

passagem sem ventre, óssea hospitalidade.

 

 

O que há dentro, no fundo da cova (tão longe do útero)

além de ossos

resistindo inutilmente ao tempo?

Responda, leitora!

neste 1º inescrutável de novembro

ante poético cemitério de Santo Amaro

onde ris e celebras festa da poesia fanadano lírico velório de Sílvio H.

 

As peias da morte, enlaces metálicos, malhas insones

correntes eternas, jaulas avaras de nossa vida parca

que nos prendem ao confim do fundo da cova

são de aço eterno (metal que Deus bem temperou).

Nada nem ninguém (divino ou não) nos libertará delas

(bem atados que estamos

no outro lado do útero).

 

Sentença do Juízo Final quem exara

é coveiro.

Atestado de óbito moderno comprova dupla morte

da alma e do corpo.

 

Nunca mais meus olhos verão luz

nunca mais meus lábios tocarão vinho.

E minha boca boceta lírica.

Nunca mais considero estrelas. Estou morto. Posto.

 

Somente, podre semente.

Nunca: ladainha de defunto.

 

Rosas vivem da graxa dos mortos.

 

A morte é uma gueixa de argumentos de nojo.

 

A morte real é o esquecimento

só após o inventário cumprido

processo fúnebre concluído

taxas devidamente pagas ao diabo do notário   a morte começa (definitiva).

 

(A morte real é o esquecimento).

 

 

Só após o ritual de cumprimento do velório

a ressurreição do luto em fiasco    10. a morte (que é mulher) começa.

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Murilo Gun

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