Luzes já amorteciam dos olhos
a monte já iludia a luz
como seu troféu de sombra dura
o movente naipe das dunas
também móveis e afinadas
pelo vento leste (nu vórtice de ar)
embaralhava o tempo por dias
perdidos de navegação contínua
pelos porões de pedra estéril
de Cabo Verde e pelas
reais miragens das Canárias
e Ilhas Madeira.
Lembro o último vinho numa cantina alta.
Deixei o éden Funchal
sob peso imortal do pecado da inveja.
Antes, toquei a casa
natal de Cristiano Ronaldo
o luso messias da pelota.
Os balouçantes candelabros de antes
já não cintilavam tanto
sua luz trêmula perdia
o velho fulgor dantanho
o coração despalpitava
já não se iludia de nada
síncopes descompassadas
eflúvios lentos primos
badalares frígidos
do sino de carne do peito indiciavam
eitos findos da jornada prenhe de desvãos
dura, vital, sonâmbula.
Ou mesmo só vândala.
Atlântico périplo
deslocava a alma
à borda da Mauritânia
lia Cioran sem parar
com vodka russa na terceira piscina
o incessante Eliot
pousado no oásis do convés
exultava ante intemporal mar
enquanto peixes voadores
o escoltavam ao lado
de gaivotas surfando
nas ondas poderosas
do velho ATLÂNTICO.
(a meus pés).
E boa prostituta me louvou a noite
no cassino e na boate. (Bote da alma).
Nisso a noite postou-se
na proa deixando a ré a luz
águas negras barulhentas
a música da nave esmaeciam
aos salões de dança subiam
sambas revolutos da água
tangos espumosos e frevos
da proa veloz cortando em fatias
líquida e duradoura pele do mar.
O êxtase não me abandonava
enquanto reluzisse o uísque
balouçante como candelabro célico
no copo meu céu líquido áureo.
Das estrelas noturnas pingavam
diagramas nos olhos da vida.
Pirâmides de palavras
ergui a estrelas.
A escrita do céu recolhi
do convés à escuta da treva de letra
o reflexo do verso na água
o lampejo do peixe espada
o levitar da nave intensa
ao capelo do mar de maio
tudo me acendia verbo
vorazmente vital.
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