03
Dom, Ago

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    (Confissões do poeta) 

  A soliloquiar voo, pássaro sutil

   de canto inclinado ao levante

   ave de grito debruçado no lenho do poente

         em mim mesmo me ensimesmo.

        O que não sou é o que (não) sabes

         oprimente leitora, dona absoluta e impiedosa

         da palavra devoradora e proprietária do sentido.

         Contrito me deparo com o infinito

         e se já não sou o que digo o ego oxido, jugulo

         o logo(s), fundo delíquio me golpeia, aterra-

         me súbito pasmo, o sega me decepa

         mas resisto até o último hemistíquio

         até o próximo capítulo da rosa resisto

         ululo como as libélulas pendulam

         sob a vaga lua que crisântemo aclara

 

          (minha voz eco cristalino dilacera

          se as pausas não demoram no enquanto moro)

          leio enquanto intervalo dura ou pássaro

         do poema ondula ou algazarra da gangorra atura

         alegorio uma mulher vestida de nu (a Clizia de Montale).

  

         Enquanto silaba o vento no eucalipto cochilo

         (o cachecol acalenta a jugular enquanto)

         me ensarilho na seda do apuro

         na captura da manteiga me amacio

         na pausa do hexâmetro durmo

         enquanto empedernida rima eco me alcandora.

  

         Enquanto eu soliloquio tu coloquias

         a hexametrar linhas me dedico

         como a um suplício.

 

Murilo Gun

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