Às cinzas do grupo Oroboro
e à bandeira do futuro da arte
que empunhava (ainda viva?)
Trêmulos sais do orvalho
revolvem-se da convulsa retorta
néctar ao lunar alça
cume da volúpia
jugo de ungüentos avança
vela filtros sal obíquo
(da deformada tina caído
como cloaca ou estrela no poço do espírito)
lágrimas herméticas descem
como carneiros da pálpebra das galáxias
Ao sino do oxítono (obra do adobe cúbico do verbo)
cones do verbo exercitam
suas perícias de pirâmide
tetraedros de prismas
chusmas de vitrais
regato gótico mana da catedral
cubos de luz coagulada
demoníaco dom
do amoníaco repartem
vertigem herdada
da alquimia do id
vem o desenho do grito
no rosto do futuro estampado
buril da hora sobre
mármore do tempo debruçado.
Das urnas do céu descendes
brilhos estupendos
ráfagas de luz, ditirambos
do vórtice dos ventres pandos
dos precipícios dos olhos
para o oculto rosto da noite
Rio de voragem e intervalo
do silêncio culpado
ao magma de que viemos
aos rumores que deixamos
nas rochas do infinito
lápides celestes, túmulos e vermes da carne
das tundras do céu descambam
filtros, azeites, savanas
desperdícios dos lábios
decomposição dos mestres.
Empedernidas essências
se esparramam dos átrios
mecânicos do mundo para
o seio febril do atanor (onde sonham
e dormem novos hefestos
e outros elementos se irmanam).
Silêncios intransitivos
intranscendentes uivos
mudos páramos do corpo
rumores desaparecidos
(onde ácidos ferozes
corroém gritos).
Grassa vitríolo filosófico
a mais crua e rica
harmoníaca unidade vital
e sacra (ou lírica)
carnal ou etérea se inaugura
do bojo do orgasmo
áureo ou escuro
perpetra-se esse círculo
da matéria viva
que uiva como ninfa.
Ira que cura pestilência
chagas do estômago de sáurios
cóleras familiares, críveis pomadas
sais civis ou marciais
exúberes ou teatrais
(sais senis ou sublimados)
cenas esquecidas dos últimos big-bangs
punhais, comendas, espetáculos
brasões venenosos, emblemas de víboras
sob hialina égide
de sais equívocos, infinitesimais
anunciem-se efígies de vésperas, enredos de dor.
( . . . )
De néctar, títere, Cícero, avatar, fenômeno
é a esperança que tramita na palavra.
Sal do fogo e da terra, sal
sangue do cristal, brancura criada
pela criatura harmonizando o mundo
com seus demônios
com os rebelados hinos
hiatos quânticos, sons alquímicos
fogos e tiroteios do universos
sal da universal harmonia
esférico, longitudinal
sal amminiotical, aquoso, natal
sal tenro do orvalho e nepentes
das estrelas, serpentes, celeumas sal
sal da vida, do mal ou do incerto futuro
à deriva dos olhos videntes
sal lunar e visceral
sal alado, cínico, soberbo, vulgar
sal do sol e do seio oral cúmplice
elemento da trégua matinal.
Sal, elementar sal
do fogo, da água, do ar
sal da terra
vindo dos aromas da aurora
e se espargindo por narinas escuras.
(poemas reunidos de uma noite vinha e longa
de julho de 1999 em Gravatá a 19 graus centígrados
(penúltimo ano do século)