02
Sáb, Ago

destaques
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Às cinzas do grupo Oroboro

e à bandeira do futuro da arte

que empunhava (ainda viva?)

 

Trêmulos sais do orvalho

revolvem-se da convulsa retorta

néctar ao lunar alça

cume da volúpia

jugo de ungüentos avança

vela filtros sal obíquo

(da deformada tina caído

como cloaca ou estrela no poço do espírito)

lágrimas herméticas descem

como carneiros da pálpebra das galáxias

 

Ao sino do oxítono (obra do adobe cúbico do verbo)

cones do verbo exercitam

suas perícias de pirâmide

tetraedros de prismas

chusmas de vitrais

regato gótico mana da catedral

cubos de luz coagulada

demoníaco dom

do amoníaco repartem

vertigem herdada

da alquimia do id

vem o desenho do grito

no rosto do futuro estampado

buril da hora sobre

mármore do tempo debruçado.

  

Das urnas do céu descendes

brilhos estupendos

ráfagas de luz, ditirambos

do vórtice dos ventres pandos

dos precipícios dos olhos

para o oculto rosto da noite

Rio de voragem e intervalo

do silêncio culpado

ao magma de que viemos

aos rumores que deixamos

nas rochas do infinito

lápides celestes, túmulos e vermes da carne

das tundras do céu descambam

filtros, azeites, savanas

desperdícios dos lábios

decomposição dos mestres.

  

Empedernidas essências

se esparramam dos átrios

mecânicos do mundo para

o seio febril do atanor (onde sonham

e dormem novos hefestos

e outros elementos se irmanam).

 

Silêncios intransitivos

intranscendentes uivos

mudos páramos do corpo

rumores desaparecidos

(onde ácidos ferozes

corroém gritos).

 

 Grassa vitríolo filosófico

a mais crua e rica

harmoníaca unidade vital

e sacra (ou lírica)

carnal ou etérea se inaugura

do bojo do orgasmo

áureo ou escuro

perpetra-se esse círculo

da matéria viva

que uiva como ninfa.

 

Ira que cura pestilência

chagas do estômago de sáurios

cóleras familiares, críveis pomadas

sais civis ou marciais

exúberes ou teatrais

(sais senis ou sublimados)

 

cenas esquecidas dos últimos big-bangs

punhais, comendas, espetáculos

brasões venenosos, emblemas de víboras

sob hialina égide

de sais equívocos, infinitesimais

anunciem-se efígies de vésperas, enredos de dor.

 

( . . . )

 

De néctar, títere, Cícero, avatar, fenômeno

é a esperança que tramita na palavra.

 

Sal do fogo e da terra, sal

sangue do cristal, brancura criada

pela criatura harmonizando o mundo

com seus demônios

com os rebelados hinos

hiatos quânticos, sons alquímicos

fogos e tiroteios do universos

  

sal da universal harmonia

esférico, longitudinal

sal amminiotical, aquoso, natal

sal tenro do orvalho e nepentes

das estrelas, serpentes, celeumas sal

sal da vida, do mal ou do incerto futuro

à deriva dos olhos videntes

sal lunar e visceral

sal alado, cínico, soberbo, vulgar

sal do sol e do seio oral cúmplice

elemento da trégua matinal.

 

Sal, elementar sal

do fogo, da água, do ar

sal da terra

 

vindo dos aromas da aurora

e se espargindo por narinas escuras.

  

(poemas reunidos de uma noite vinha e longa

de julho de 1999 em Gravatá a 19 graus centígrados

(penúltimo ano do século)

Murilo Gun

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