ao útero do hino
aos rins do solilóquio
ao coração da tâmara
e ao pâncreas da elegia
Do dia abeto dióscuro e claro
impune carvalho
ou lúcido cedro avulta
ante tão sensata inverdade
(a do poema e do mundo)
poesia costura
borda do abismo sem lua
fia o disforme (e a banilha
que queria ser orquídea pereceu)
trama o que não pode
clavado de tijolos e ojerizas nuas
a construir a sucessão de sentidos
herança densa a leitor heroico.
Da tarde que o sol fertiliza retiro
a noite inócua (inacessível abelha
da colmeia de sombra) cravada
a fio de parca e canela
do lunar fio de mel lavra
(como crucifixo sem a palavra sangue ávida)
depois o tempo árido escalavra
e tudo o que seja podre torna-se
larva ou anáfora, fruto e alma
(podre fluxo do sentido verme
pedras do significado e carnes do vir enfruteçam
e torna-se roca do espírito farta).
Fio que falte corte completa.
Sopro que vaze fiat apague.
E se a morte fia a sina
assina o fim do fio (suma desdita).
Difuso e findo fuso
(a sus) ofusca o temor de ser.