Levante de metal, manhã farpada
coivaras do amanhecer
aurora dentada
rosa mecânica
cena púrpura
aurora dentada
engrenagem de Deus
roda hindu
grade sânscrita
trégua etrusca, hímen arameu (língua que Deus falava)
parto de cristais e mulheres
ômega de Kant
ressurreição dos vitrais
os músculos rebeldes do coração aceso
como tocha olímpica selvagem
as turbinas do poema desencadeadas
Boa viagem, Recife, adeus amadas (passadas).
De solitária luz e água cega
e fogo universal (comburentes do ser)
é feita minha praia
(de argila e lâmpada
de oblatos e misericórdia
de alicerces dos aluviões é a sombra
do porto do Recife).
De virilhas de estrelas e cilhas
atadas a potros de Andrômeda
das crinas dos cometas
do enxame das galáxias
e flancos de búzios emboscados
e loas de sereias amarradas
(a mastros de Tróia, aos músculos de Ulisses)
vive o sol verde das estradas
que trago preso aos sentidos das palavras
vivem as utopias que cevam a humanidade.
Brilho longínquo (dalguma estrela extraviado)
rumor a cinza e a verme (dolicocéfalo)
me observam do cais desesperado
com lupas e cicuta afiadas
medem a minha desmesura
com trenas e compassos devorados
aquilatam o teor e a avidez
de desumanidade da alma
das lonjuras do tempo sem data.
Ao poema que é fábula, consolo, culminância e pua
da eclosão do ser
A ti leitora que caminhas
sobre labaredas impassíveis
transfigurada de metamorfoses e perdizes
ao cadáver do senhor amortalhado
nas negras dobras de uma noite perpétua
ao cadáver da manhã anunciada
nos profundos dobres de um sino sujo
ao cadáver que é a flor neozelandesa.
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