03
Dom, Ago

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Claridade desabitada ocupa

minha sombra que se alastra

pelos desvãos escusos da alma

a hora devora estrelas, chovem

segundos milênios

sobre o rosto dos homens

(poetas registram os episódios da vida

com minúcias rimas

anotam com candura e pertinácia extremas

a zoologia do zodíaco, a geometria solar

e todas as casas do horóscopo

espreitam essa escrita)

de alguns ângulos obstinados da caatinga flagro

a silhueta de um cacto

suas arestas acúleas e carne úmida, bondosa

capto o silêncio ponteagudo da desolação

da terra devastada do poema colho

a cinza de uma quarta-feira extraviada

num verso apocalíptico de Eliot.

a paisagem do tempo amaro rio (Heráclito disse

que não tinha vírgula vírgula só fluxo)

(que devasta margem centro céu ribeira)

pedras tropeçadas das estrelas

ásperas bandeiras de jurema ocas cigarras

estilhaços de sal e nuvem amealho

nos bisacos de meu espírito desmoronado

poemas de água recolho das bacias de pedra

a manhã enevoa (ou esvoaça como pária)

do peso solar e espesso foices

afiam os pinos do meio-dia alicates

trituram asas dos anjos conterrâneos

surdo mormaço no corpo acampa

(com suas guarnições suadas e esquadros ásperos)

rosa mísera, pedra e intempérie

seixos que rolam do chão humano

colhemos na alma de pouca dura

de cada sulco sol, de cada sombra dor

do escombro que somos semi-edênicos

escravos da usura, objeto do pecado

ruínas empoadas em busca do caos da salvação.

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Murilo Gun

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