A existência só possui legitimidade autêntica ou
valor se formos capazes de perceber, mesmo
nas dimensões do ínfimo, a presença do
insubstituível.
Quem não o fizer ou conseguí-lo reduzirá
o espetáculo do devir a uma sucessão
de equivalências e de simulacros, a um
jogo de aparências sobre um fundo de
identidade.
Uma só frase vasta e ininterrupta
para sempre ininteligível.
Cioran citando Perse.
Se se liga a uma poesia um sentido unívoco
ela está irremediavelmente condenada.
Desprovida desse halo de indeterminação (e
Ambiguidade) que encanta e multiplica sentidos
e sensações, enaltece e aperfeiçoa críticos e
reduz zoilos a zero, a obra desaba nas misérias
da clareza, e, deixando de desconectar, se
expõe à desonra reservada às
evidências. Se se pretenda poupar humi-
lhações hermenêuticas deploráveis ou não
de ser compreendida, lhe cabe, dosando
o irrecusável e o obscuro, cultivando o
equívoco, suscitar interpretações diver-
gentes e entusiasmos perplexos, índices de
vitalidade, expressões do sublime, garantia
de duração.
Quando Perse evoca a morte, será para
denunciar sua ênfase intensa e não
para explorar sua fria magia.
Ele (Perse) cultiva a ruptura original do verbo
e o desvio criador de sentidos que
conduzem poemas para fora da
unidade do todo literário tradicional.
A bênção poética consiste em sua
singularidade e na ruptura ébria
que abre o veio da transgressão criadora.