Com a matéria da insônia teço
relâmpagos de leite na lenta horta
do impreciso cais onde olhos naufragam
aplico ataduras, escuras pomadas
remédios para que tempo não passe
ímpetos para o impasse
para que o tempo cesse
ante quando termine o rosto, longos umbrais da noite cárnea
sem pudor ou hecatombe
para que vitrais do sono
se quebrem com perícias ruidosa
e côncavos silêncios das ruas crestem-se
pois são assaltos ao meu sono
que sucumbam os silêncios da água
pois são fugas para
minha sede de sono
naufrágio do abandono.
Que os expostos cimentos do tempo
não fechem minha pálpebra
ou meu féretro arroxeiem
nem adiem meu tormento
não sepultem meus olhos
nem infectem sonhos
os crassos ciprestes do tempo
duende de todo insano
insone esqueleto andante.