Vi Anaxímenes ébrio
do hálito da natureza afirmando
que ser é éter
que montanhas trácias sonegam
sol a mortais olhos dos homens.
(E que sombras amaduram
o silêncio da consciência).
Vi Descartes triste e enduvidado
cobrando dádivas do seu passado
buscando de cada alento ou orgasmo
suprema chave que abra
cofres do ceticismo mais ácido.
Vi Hagel dobrando
a esquina da metafísica
nas espumas do ser perdido
sobrançando maços de contradições
a espírito humano ensinando
o sentido do absoluto.
Numa manhã alemã
vi Hegel já longevo
à beira do eterno
bebendo dos profundos cálices
tragos de absoluto.
Vi Sócrates da hélade luz embuçado
de sua cela irônica desfrutando a cor
do honor do pudor púbico
das imortais virtudes da cicuta atado
a efebos e
à ébria ambrosia dos deuses
filtro da civilização grega.
Vi Sócrates inconstante
a ver o eterno
a cada instante
devassando a juventude ática
seus sonhos ineptos reprovando.
(Senti as garras agudas da cicutas se armando
do cruel líquido borbulhando dor
do seu intestino e lento anelo vi
políticos esculpindo a culpa
e o remorso entrando na história),
Vi Berkeley cismando ensimesmado
sobre o próprio eu supremo debruçado
possuído do solipsismo mais sarcástico
sozinho entranhadamente enclausurado
do âmbito de seu ser fantástico.
E único.
Vi Tales afogando-se de primeira água
olhos de estrelas cheios
caindo no poço de seu desejo
sombra dos monumentos medindo
a perscrutar os gregos eclipses nus
de seu tugúrio da Ásia Menor a céu aberto
o caminho único do conhecimento
de nós mesmo buscando
a gritar tudo é água, água, água e infinito
canto que Sócrates trilhou
com a suprema sapiência
que a foice da cicuta desfez.
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