03
Dom, Ago

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DEI DIXIT
Roto Barro
No barro primevo, amada 
mal se imprima a máscara

e a mão ainda trema
do gesto de revelar o rosto,
que sempre tênue pulse o traço 
supremo e roto.



Engenho Barro


Primeiro, contemplou a forma 
engendrou o barro e depois 
ao trabalho das mãos condenou 
a criação do homem.



TRIPOEMA



Cena ígnea



A zarabatana angulada do relâmpago
atraiçoa o céu rompendo a rombuda tenda
rasga véus de nuvens e dorsos de vento
as espáduas de vermelho trêmulo exibindo
aos olhares incrédulos dos homens.




O metal do crepúsculo



Horas pensativas imersas na tarde longa
sob a égide de um crepúsculo cujos metais
prateiam a noite, abrem o ventre do matiz.




Memória



Os chinelos arrastando fantasmas 
pelos assoalhos intranqüilos da velha casa 
contemplando orvalho dos abismos
ocasos de pedra e retratos antigos.


ECCE 

Eis deposto o último sopro 
no cofre forte da morte

Eis os eneágonos da agonia 
desenhados no rosto dos homens

Eis o bucólico cenário deteriorado 
eis que é findo o fôlego dos afogados


Eis os laudêmios demolidos 
e a lista dos bens estraçalhados.




SINFONIA E POMAR

Num pomar em Tíbur
um efebo olha o outono.

E a brisa manuseia sua túnica cínica.
No olho adolescente late breve crepúsculo.

E flautas frígias
agudas como vozes de eunucos

são a ele oferecidas
numa bandeja de longos búzios.




ÚLTIMO POEMA

A poesia é necessária, senão quem saberia
das fortalezas derrubadas por um cavalo de abeto?
E das lágrimas com que Hécuba 
fertilizou as várzeas da dor humana?

{jcomments on}

Murilo Gun

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