Não me conceder Prêmio Nobel
tornou-se tradição escandinava.
Tudo é efêmero.
A imortalidade seria o inferno.
Talvez me sinta tão perdido
Porque o mundo não tem sentido.
Parece-me que devo morrer, e devo morrer
realmente. Acho que já vivi demais.
E tenho grande curiosidade.
Creio que a morte deve ter um certo sabor;
tem que ser algo peculiar, como nenhum de nós
nunca sentiu antes.
Alberto Girri me disse que esteve
com Mujica Láinez um mês
antes de sua morte e que ele disse que estava
perto da morte, e não sentia temor
mas que tinha certeza de ir-se para sempre.
Essa certeza não pode se basear em visões
ou fatos, senão no sabor peculiar
que a morte tem e cada um saberá
e será algo como nunca se sentiu antes.
A aproximação à morte é um fato e ela vem
acompanhada da impaciência. Quem sabe
quando chegar o momento da morte
me mostrarei um covarde.
Tenho visto algumas agonias, tantas quanto
um homem de 84 anos pode ver. E sempre
quem estava morrendo demonstrava
grande impaciência, estava desejando
morrer de vez, logo
sem mais rodeios, cerimônias brancas e tais.
Creio na morte. Espero morrer
o mais depressa possível, mas continuo
a viver obstinadamente.
Com ela poderei recuperar a escuridão
em toda a sua plenitude.
Não sei se a questão da vida além-túmulo
é uma ilusão recomendável.
A morte é esse outro mar, essa
outra flecha, que nos livra da lua
e do irremediável, que consola.
O amor torna homens impotentes
e patéticos, brindando-os com o valor
do irrecuperável e do incerto.
Whitman teve razão ao negar a rima.
No caso de Hugo, seria insensatez.
Simular pequenas incertezas é preciso
já que, se a realidade é exata, a memória não o é.
Hoje, ao cabo de tantos e perplexos
anos de errar sob a vária lua,
me pergunto que azar da fortuna
fez-me temer espelhos.
Comparo certas poesias com o Polyalbion
de Michel Drayton que registrou
em 15.000 dodecassílabos perfeitos
a fauna, a flora, a hidrografia, a orografia,
a história militar e monástica da Inglaterra.
Esgotarás a cifra
que corresponde ao sabor do gengibre
e seguirás vivendo.
Todos os livros são um mesmo livro
e abomináveis como espelhos repetem a mesma palavra
A arte deve ser como espelho
que nos revela o próprio rosto.
Incessante espelho que se olhe
em outro espelho, e ninguém para vê-los.
Que errante labirinto, que brancura
cega de esplendor será minha morte.
A democracia é um abuso da estatística.
Creio que não há nenhuma razão
para que um governo militar exista.
Não são preparados para isso.
Se pessoas têm passado de desfiles e quartéis
não sei se isso as capacitam para a coisa pública.
{jcomments on}