03
Dom, Ago

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O último instante é apenas o início de outro tempo

a incisão que abre a veia de Crones e  o fluxo

dessa substância infinita e sucessiva como o amor

são chamas as horas (imperfeitas, austeras inteiras)

incêndio do qual a cinza é o passado

a verdadeira vive no coração de um tigre

(quem sabe portanto, inumerável, copioso)

é um rastro estendido no iodo, na janela do sítio

que venha da alma do átimo

pegada de rosa no sal, sucessão de céus.

O andarilho do tempo toma a rota

da noite sem fim e em cada límpida

ou turva manhã sonâmbula espeta

sua bandeira com a derrota do passado.

Tempestade de lábios e amoras

dedos de lua, lírios com asas

azuis crepusculares e pranto de prata

pálpebra de relâmpago, fagulha do sangue

fileiras frias, válidos vazios

golpes de açucena, túneis da veia

formas em que o tempo se desdobra

estátuas violadas, ataúdes estofados

touro, copulando com monjas

calhandras e baixelas amadas

lamento por conchas e razias

ossuários de terebintina

e navalhas congelando sombras

são caminhos do tempo infinito.

Cal e canto, relva e estrela, sal e pêndulo

estrebaria cósmica, gado de estrela

labaredas de silêncio e angústia

imprimem-se no rosto da hora

o fêmur da espera se transforma

em desespero e história.

Vidro de pupila, sol do lábio

signo baldio, ardida aventura

eis o deserto onde frutifica a hora.

Rumor aceso de aço, espada e lábio

pó em que se transmuda a face

coração que se torna coivara.

Azeite e arado, solidão ajoelhada

Martelo cronológico, bigona do espaço.

A febre que é o futuro

as hostes da sucessão em riste

demônios em gôndolas transitórias

longa noite de espinhos

auspícios estrangulados

o trânsito encarnado em despojo

a vida, escura, o alarido alado

relógios amolecidos pela inglórias

a morte e seu cajado de pó e missal de cinza

osso alucinados, cemitérios vencidos

o açúcar do cárcere refinado

a dor do amanhecer importada

ânsia febris desatinadas

gargalhando o espanto horário.

Do humo do destroço

do acme da passagem

do hino do pós-trânsito

da hérnia da variedade

do plasma das promessas

dos ossos das vozes

e temos do desamor

nave carregada de hora

porões acetinados de pássaros

a maçã hospitalar o trigo nevoento

tudo se faz âmbito

se eterniza o agora

e o calendário se exaspera.

 

A voz de metais velhas, o lamento

passageiro, a contenda sem braços

o coração tedioso da rosa

canção percorrendo arcos

ex-cinzas que foram chusmas úmidas

estirpes que o vento devorou

desertos transformados em praças

exércitos de instantes derrotados nômades

o sítio desancando o átomo

a vida em forma de mecanismo rítmico

as gôndolas do do tempo tornadas ostras

pêndulos encarcerados

voos coagulados

eis a história da hora.

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Murilo Gun

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